segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Ainda a propósito de "migrantes" e "refugiados"

"Alguns equívocos vocabulares em contexto político 
Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa 14 de setembro de 2015 
 1. Se o significado das palavras fosse espelho das coisas e das situações, como seria simples falar da vida. Só que o léxico não é mero repertório de etiquetas: na verdade, cada vocábulo marca também crenças e atitudes características de uma cultura e definidoras de perspetivas que ditam decisões e rumos de ação com inevitável impacto social e político. O consultório ilustra isso mesmo, com uma resposta sobre o uso de refugiado, palavra frequentemente rasurada nas notícias, que a confundem com o termo migrante (ou imigrante), em referência mais anódina aos sírios e iraquianos que fogem à guerra.* E, já que se fala de impropriedades do discurso mediático, em contexto político, convém mencionar igualmente outros equívocos detetáveis no que se diz e escreve à volta da campanha para as eleições legislativas que se realizam em Portugal, no dia 4 de outubro p. f. Recordemo-los: o abuso de "plafonamento," em lugar de «teto ou limite (de despesas, de crédito)»; o frente a frente, que ocorre indevidamente hifenizado; a "precaridade", uma deturpação já clássica de precariedade; a má utilização da sigla da coligação Portugal à Frente (PàF, e não "PAF", tal como Banco de Portugal é BdeP, e não "BDP")**. * Observe-se que a página de Facebook que promove o apoio a estes refugiados mostra um erro: lê-se aí "bemvindos", quando a forma correta é bem-vindos. **Como observa o Instituto Português da Qualidade, «[e]m regra, não se representam artigos, preposições, conjunções nem advérbios na sigla. As siglas não deverão, em princípio, incluir as iniciais». No entanto, têm ocorrido algumas mutações (ler esta resposta), muitas vezes em consequência da proliferação de siglas e da necessidade de as diferenciar, as quais permitem inserir as iniciais de palavras das referidas classes gramaticais, mas representadas com inicial minúscula. 
2. No consultório, espaço ainda para um regionalismo – «ao dependuro» –, que Camilo Castelo Branco não se esqueceu de exibir na vertigem da sua prosa torrencial. Na Montra de Livros, apresentam-se três obras destinadas a quem aprende português ou pretende conhecê-lo bem para o falar e escrever com correção. 
 Temos, portanto: – no âmbito da aprendizagem do português como língua estrangeira, uma nova versão adaptada para alunos de nível intermédio, da autoria de Ana Sousa Martins, da extraordinária saga que é a Peregrinação de Fernão Mendes Pinto (c. 1510-1583) ; – no intuito de abrir a gramática a todos, agora com novos casos sujeitos ao crivodo juízo normativo, Sandra Duarte Tavares regressa com 500 Erros mais Comuns da Língua Portuguesa; – de Sandra Duarte Tavares também, em coautoria com Sara de Almeida Leite, Pares Difíceis da Língua Portuguesa, um dicionário de parónimos que retoma uma tradição da gramática prescritiva que andava esquecida em Portugal. 
3. A atividade do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa não se confina a estas páginas e busca constantemente formas de colaboração que se traduzam em iniciativas em prol do esclarecimento e da divulgação de temas da nossa língua comum, onde quer que ela se fale. É o caso de Mambos da Língua – O tu-cá-tu-lá da língua portuguesa, programa produzido pelo Ciberdúvidas para a Rádio Nacional de Angola, que tem novos episódios: o que significa «ter minhocas na cabeça» (83.º episódio)? E qual é o plural de gravidez (84.º episódio)" 
in: https://ciberduvidas.iscte-iul.pt


in www.vereficar.com

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