segunda-feira, 18 de novembro de 2019

O caso do bebé encontrado no Ecoponto

in pubico.pt

Bebé abandonado esteve mais de 15 horas sem roupa dentro do ecoponto

O bebé prematuro de Sara Furtado, 22 anos, esteve dentro do ecoponto mais de 15 horas. A mãe abandonou-o sem roupa e ainda com o cordão umbilical. No dia seguinte, ao ouvir o rumor entre os sem-abrigo na zona de Santa Apolónia de que se encontrava um bebé a chorar, não avisou que tinha deixado o recém-nascido no lixo.

A decisão do Supremo Tribunal de Justiça que negou o "habeas corpus" da jovem cabo-verdiana revela, ao pormenor, as horas antes e depois do parto da rapariga, que vivia na rua desde julho. A informação surge do primeiro interrogatório de Sara Furtado a um juiz de instrução do Tribunal de Lisboa, logo após a ser detida pela PJ, no final da semana passada.
Na madrugada de 5 de novembro, Sara saiu da tenda onde vivia, junto ao rio Tejo, dizendo ao companheiro que ia dar uma volta e que não necessitava da sua companhia. Antes de se dirigir à zona da discoteca Lux-Frágil, foi à tenda de apoio buscar um saco de plástico para aí colocar o bebé.
Às 2h00, já junto à discoteca, Sara deu à luz, tendo deixado cair o recém-nascido no chão. Pouco depois, colocou-o no saco e dirigiu-se ao ecoponto situado nas traseiras do espaço de diversão noturna. Depois de deixar o bebé no interior do ecoponto, regressou à tenda.
Já na tenda, lavou-se e livrou-se da roupa suja, colocando-a num caixote do lixo.
No dia seguinte, por volta do meio dia, quando passeava com o companheiro, um sem-abrigo revelou-lhes que um outro tinha visto um bebé nos contentores junto à discoteca. O namorado de Sara foi ao local e ainda vasculhou alguns caixotes do lixo mas não viram nada. A rapariga "visualizou dentro do contentor amarelo o seu filho, mas nada disse e com medo que o companheiro se apercebesse insistiu com este para que se fossem embora, o que acabou por acontecer", pode ler-se no documento do Supremo.
Já no final da tarde dessa terça-feira, a PSP anunciou aos sem-abrigo daquele local que tinha sido encontrado um recém-nascido mas Sara optou por não falar com os agentes, com receio de ser descoberta. O bebé esteve mais de quinze horas no interior do contentor sem roupa. Nasceu com 36 semanas e sobreviveu ao frio e à fome.
À noite, o companheiro de Sara "questionou-a sobre o facto de ter as calças sujas de sangue, mas a arguida, uma vez mais, ocultou o que tinha sucedido, respondendo que era por estar com o período". Aliás, sempre que foi questionada pelo namorado ou por outros sem-abrigo porque razão tinha a barriga grande, ela respondeu que tinha problema de gases.
O Supremo revela ainda que Sara foi consultada por uma médica e que fez um teste de gravidez. Questionada se queria abortar, a rapariga respondeu negativamente.
O Supremo revela ainda que Sara Furtado vive em Portugal há cerca de dois anos. Veio de Cabo Verde com a intenção de estudar, mas acabou por abandonar os estudos. A mãe já vivia em Portugal mas entretanto regressou a Cabo Verde. Sara foi nessa altura viver com a irmã mas acabaram por se desentender, tendo acabado na rua em julho. (in expresso.pt  14.11.2019)

Mãe de recém-nascido abandonado contou a sua tragédia: “Os homens pagavam-me mais por sexo sem proteção”

Maria Lopes, advogada de Sara Furtado, a jovem sem-abrigo que abandonou o bebé num ecoponto, em Santa Apolónia, conversou com ela na cadeia de Tires. A cabo-verdiana de 22 anos revelou que o pai do filho foi um dos clientes com quem manteve relações sexuais. “Os homens pagavam-me mais por sexo sem proteção”, explicou Sara à advogada.
A jovem está indiciada por tentativa de homicídio qualificado. A Polícia Judiciária suspeita que agiu premeditadamente, tendo escondido a gravidez de toda a gente que a rodeava: desde o companheiro, aos sem-abrigos e voluntários de associações de apoio à população mais carenciada. 
(in expresso.pt 15.11.2019)

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