Poeta maldito (em francês: poète maudit) é um termo utilizado para referir os poetas que mantêm um estilo de vida que pretende demarcar-se do resto da sociedade, considerada como meio alienante e que aprisiona os indivíduos nas suas normas e regras, excluindo-se mesmo dela ao adoptar hábitos considerados autodestrutivos, como o abuso de drogas. Sob este conceito está o mito de que o génio criador tem terreno especialmente fértil entre indivíduos mergulhados num ambiente de insanidade, crime, violência, miséria e melancolia, frequentemente resultando no suicídio ou outro género de morte prematura. A rejeição de regras manifesta-se também, geralmente, com a recusa em pertencer a qualquer ideologia instituída. A desobediência, enquanto conceito moral exemplificado no mito de Antígona é uma das características dos poetas malditos.
Os escritores do Romantismo utilizaram o termo, aplicando-o a François Villon (1431-c. 1474), considerado, por isso, como sendo o primeiro poeta maldito da história da literatura. O autor da expressão foi Alfred de Vigny, que a utilizou em 1832 na sua peça dramática Stello, onde se refere aos poetas como "la race toujours maudite par les puissants de la terre" ("a raça sempre maldita para os poderosos da terra").
O termo popularizou-se a partir da sua utilização para referir-se a um grupo de poetas, emprestado de uma série de artigos dos anos de 1884-1888 de Paul Verlaine intitulado "Les poètes maudits" (Os poetas reprovados), no "Boletim Lutèce", no qual poetas como Tristan Corbière, Rimbaud e Mallarmé eram enfatizados.
Charles Baudelaire, Paul Verlaine, Arthur Rimbaud e Lautréamont são considerados exemplos típicos.
O termo é relevante para as vanguardas do século XX, não apenas porque alguns dos seus precursores foram qualificados como malditos, mas porque estas, com sua postura polemista, iconoclasta, tendiam a sofrer grande resistência nos meios culturais.
Em diversas ocasiões na história, normalmente por razões políticas, grupos de poetas precisaram de se colocar à margem dos meios tradicionais de difusão de cultura, a fim de manterem viva a sua arte. ...(...)...
(in wikipedia.pt)
Le ciel est, par-dessus…
Le ciel est, par-dessus…
Le ciel est, par-dessus le toit,
Si bleu, si calme !
Un arbre, par-dessus le toit,
Berce sa palme.
La cloche, dans le ciel qu’on voit,
Doucement tinte.
Un oiseau sur l’arbre qu’on voit
Chante sa plainte.
Mon Dieu, mon Dieu, la vie est là,
Simple et tranquille.
Cette paisible rumeur-là
Vient de la ville.
– Qu’as-tu fait, ô toi que voilà
Pleurant sans cesse,
Dis, qu’as-tu fait, toi que voilà,
De ta jeunesse ?
Paul Verlaine, Sagesse (1881)
Paul Verlaine, "Poeta Maldito"
O valor da palavra na sua dimensão poética e musical assume em Paul Verlaine um estatuto da maior relevância.O preciosismo da sua escrita, que lhe permite através do artifício poético convocar ideias ou mesmo sensações, coloca-o numa plataforma privilegiada entre os seus pares simbolistas, Baudelaire, Rimbaud, Mallarmé.
Se o caráter inquieto do poeta contribuiu de forma indelével para a sua escrita, a conversão ao catolicismo, o alcoolismo, a relação tempestuosa com Rimbaud, os internamentos hospitalares e a passagem pela prisão fazem igualmente parte da sua agitada biografia.
À exceção dos «Poemas Saturninos» (1866), que não integram a Coleção Calouste Gulbenkian, podemos sinalizar no conjunto de obras aqui exposto alguns dos momentos-chave do percurso literário de Verlaine. Refira-se ainda que a intenção de Calouste Gulbenkian ao reunir estas obras não foi literária, mas sim o gosto pela raridade das edições e a qualidade das encadernações e das ilustrações. Assim, procurou-se nesta seleção o justo equilíbrio entre revelar a poesia de Verlaine e a sua materialização gráfica através da ilustração. A exceção refere-se ao poema «Le ciel est, par-dessus…», incluído na primeira edição de Sagesse (1881), que embora não ilustrado, convoca a musicalidade sempre presente na obra poética de Verlaine, que inspirou composições de Gabriel Fauré e de Déodat de Séverac.
(in gulbenkian.pt)
PAUL VERLAINE
Poeta francês nascido em 1844, em Metz, e falecido a 8 de janeiro de 1896, em Paris.
Paul Verlaine viveu até aos sete anos em Metz, cidade francesa onde o pai, capitão de Infantaria, estava colocado, mas depois mudou-se com a família para Paris. Estudou Direito, mas desistiu ao fim de dois anos, optando por prosseguir a formação no serviço civil, onde se graduou com 18 anos.
Fez amizade com vários poetas parnasianos e passava os seus dias em longas conversas enquanto bebia absinto. O pai, desgostoso com este estilo de vida, deixou de lhe dar dinheiro.
Verlaine já se dedicava à poesia e, em 1866, publicou o seu primeiro livro, les Poèmes Saturniens, que revela ainda a influência do Parnasianismo e de Baudelaire, seguido de Fêtes Galantes, três anos mais tarde.
Casou em 1870, mas, um ano mais tarde, apaixonou-se pelo poeta Arthur Rimbaud, na altura com 17 anos. Entretanto já havia escrito, para a sua mulher, La Bonne Chanson, onde revelou a sua esperança pela felicidade. Contudo, tinha um mau temperamento e chegou a bater violentamente na mulher e no filho.
O casamento durou pouco e Verlaine e Rimbaud optaram por levar uma vida boémia entre Londres, em Inglaterra, e Bruxelas, na Bélgica. No entanto, a 12 de julho de 1873, após uma discussão, tentou dar um tiro a Rimbaud e acabou por ser preso durante 18 meses. Na prisão, estudou Shakespeare e a obra Dom Quixote, de Cervantes, e escreveu Romances Sans Paroles, considerado pelos críticos uma das suas obras-primas. Escreveu também o poema Ars poétique (1874) - que só foi publicado dez anos mais tarde em Jadis et naguère, tendo sido posteriormente considerado como o manifesto do Simbolismo - em que amadurece a sua conceção de poesia, encarada essencialmente como "música", subjetividade, espontaneidade, sugestão.
Verlaine entretanto converteu-se ao Catolicismo e foi viver para Inglaterra, onde deu lições de Francês. Regressou ao seu país, em 1877, para dar aulas num colégio. Nesta altura, publicou Sagesse, onde a sua poesia estava repleta de sentimentos religiosos.
Em 1879, deixou o ensino e foi com um pupilo viver para o campo, para tentar dirigir uma quinta. No entanto, rapidamente foi à falência e regressou a Paris.
Com a morte do seu pupilo favorito, em 1883, e a perda da mãe, três anos mais tarde, Verlaine acabou por voltar a beber. Na altura, já era considerado o melhor poeta francês da época e tinha publicado uma obra controversa intitulada Les Poètes Maudits, composta por biografias de poetas, contos e versos sagrados e profanos.
Entrou numa fase de grande decadência, dormindo em bairros de lata e passando largos períodos hospitalizado. Juntamente com os poetas Stéphane Mallarmé e Charles Baudelaire, formou o grupo dos chamados "Decadentes", conhecido pela sua atração pelo mórbido, perverso e bizarro e pela liberdade moral.
Paul Verlaine gastou o dinheiro que lhe restava com duas prostitutas com quem vivia alternadamente e com um ladrão com quem mantinha uma relação homossexual.
Mesmo assim, em 1894, foi considerado "O Príncipe dos Poetas franceses" após a sua obra ter sido redescoberta pelos seus contemporâneos. Foi um dos líderes do Simbolismo, movimento que busca a espiritualidade e transcendência metafísica.
Morreu na miséria a 8 de janeiro de 1896, mas o seu funeral foi acompanhado por milhares de pessoas.
Disponível na Internet: https://www.infopedia.pt/$paul-verlaine
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