in infoescola.com (Queda da Bastilha - 1789) |
Por esse mundo fora todos os dias acontecem factos dignos de destaque: neste 14 de julho, a Visão do Dia sob a "pena" de Sara Belo Luís (com a devida vénia), propicia a que se leiam os factos mais importantes do decorrer da semana:
EM HAVANA, VAMOS QUERER VIVER, CERTO?Olá, bom-dia
Ele há coincidências engraçadas que, em bom rigor, não têm graça nenhuma. Enquanto em França hoje se celebra o 14 Juillet e a Tomada da Bastilha, em dois continentes diferentes, na África do Sul e em Cuba, prosseguem os protestos nas ruas. Afinal, que lugar existe pelo mundo fora para o legado das Luzes, sob o lema (nada consensual, diga-se) da liberdade, igualdade e fraternidade?
Na África do Sul, as manifestações começaram no fim de semana e eclodiram após a detenção do antigo-Presidente, Jacob Zuma. Pela primeira vez depois do Apartheid, um antigo chefe de Estado foi condenado a uma pena de prisão, 15 meses, por não comparecer ao tribunal, numa investigação sobre corrupção durante o seu mandato. Numa escalada de confrontos e vandalizações, os manifestantes exigem a libertação imediata de Zuma, sendo que o seu sucessor se revelou preocupado por “alguns destes atos de violência estarem baseados na mobilização étnica”.
Noutra latitude, em Cuba, os protestos tiveram início no domingo e já originaram, segundo informações recolhidas junto de ativistas, mais de centena e meia de prisões, incluindo a da correspondente do jornal espanhol ABC, Camila Acosta, cuja libertação já foi exigida pelo ministro dos Negócios Estrangeiros do governo de Pedro Sánchez. Entretanto, o Presidente Miguel Díaz-Canel reprimiu os “contra revolucionários” e recorreu ao velho argumentário de Fidel, acusando os Estados Unidos da América de tentarem desestabilizar o país e, assim, forçar uma mudança de regime. “Apelei apenas aos cubanos para que defendessem a sua revolução, e o povo, que foi debater e argumentar, teve que defender-se da violência dos manifestantes”, disse Díaz-Canel numa conferência de imprensa aos órgãos de comunicação oficiais.
Os cubanos saíram à rua para demonstrar o seu descontentamento em relação à falta de liberdade e à pobreza a que os 62 anos do capitalismo de Estado os votou. A escassez de bens essenciais, aliada à diminuição do turismo e à interrupção das remessas dos emigrantes, ambas substancialmente agravadas pela pandemia, fez com que a geração que não viveu a revolução castrista ousasse gritar palavras de ordem como “liberdade” e “abaixo a ditadura”. Em 2020, cerca de um milhão de turistas visitaram a ilha, o que, comparando com os mais de quatro milhões de turistas de 2019, dá uma ideia do impacto da coronavírus no setor. Antes da crise sanitária, também existiam cerca de dez voos comerciais entre Miami e Havana que, todos os dias, transportavam os tão almejados dólares. Além do mais, a pandemia evidenciou que é indefensável um regime sem liberdade, mesmo que haja conquistas sociais (nomeadamente, na saúde e na educação) a assinalar.
Há mais de 30 anos que, na ilha do mar do Caribe, não se viam protestos desta dimensão. Foi em agosto de 1994, ainda no lastro do fim da URSS, que as ruas de Havana se encheram de manifestantes, dando origem ao Maleconzado e à crise dos balseros. Agora, a geração que esteve nas ruas a 11 de julho gritou “Pátria e vida”. Repescado de uma canção criada por um conjunto de rappers ( ouçamo-la aqui), o slogan transformou-se na banda sonora perfeita dos protestos de 2021. Tenta ironizar, claro, com o lendário “Pátria ou morte” da revolução cubana. Vamos querer viver, certo? Tenha um excelente 14 Juillet e, se for caso disso, boas férias!
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