sábado, 17 de julho de 2021

A expressão idiomática "...ficar a ver navios..." e o que pode significar


imagem em ensina.rtp.pt


A língua portuguesa tem muitas expressões interessantes e curiosas e esta é mais uma delas!

Interessantes, porque podemos investigar as sua origens e podemos ler detalhadamente as variadas explicações apresentadas pelos estudiosos da Língua!

Curiosas, porque verificamos que as expressões idiomáticas carregam consigo uma dimensão popular que, com o passar do tempo, acrescenta algo, prestando-se a várias interpretações. 

E não menos importante, as expressões idiomáticas contribuem para o enriquecimento do nosso património linguístico.

No "Novo Dicionário de Expressões Idiomáticas", de António Nogueira Santos, Edições João Sá da Costa, 1990, encontrei a expressão popular ficar a ver navios que diz que significa não ser contemplado, beneficiado, sofrendo uma decepção. 

É o mesmo que ficar a apitar, também outra expressão popular que significa, não ser contemplado, beneficiado, ficando dececionado, desiludido...dizendo-se muitas vezes "assobiar às botas", "ver Braga por um canudo", "ver por um canudo", "ficar a chuchar/chupar no dedo", "ver por um óculo", "ficar-se em trinta", "ficar à acha", "morrer sem ser vovó", "estar/ficar a zero"

Uma outra explicação encontrada para esta expressão em: 
Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, 
(https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/ficar-a-ver-navios/15080) 
[consultado em 17-07-2021]:

«Ficar a ver navios» – ou «estar a ver navios», como também se usa – significa «algo que não vem», «não conseguir o que se deseja», «sofrer uma deceção» , «não obter o que desejava», «ser ludibriado», «enganado».

Quanto à origem da expressão, Orlando Neves, no seu Dicionário de Expressões Correntes Editorial Notícias, 2.ª edição, 2008, regista o seguinte:

«Esta expressão tem dado origem a várias interpretações. No seu Glossário Crítico de Dificuldades do Idioma Português, Vasco Botelho de Amaral resumiu as mais razoáveis: 'Antenor Nascentes explica a origem da expressão ficar a ver navios, como alusão aos armadores portugueses que nos séculos das conquistas ficavam no alto de Santa Catarina, em Lisboa, esperando as caravelas que vinham das Índias, da África ou do Brasil. Indica ainda a hipótese de certo milionário portuense que, da Torre da Marca, viu afundarem-se todos os navios da sua frota, por mor de violento temporal. Esta segunda hipótese é menos provável do que a primeira, mas caso é que há ainda outra, não referida por Nascentes: a do sebastianismo. Quando os Franceses dominaram Portugal, diz-se que os homens a que poderei chamar da resistência iam para o alto de Santa Catarina, em Lisboa, a ver os navios que trouxessem o Desejado. E da vanidade da espera haverá nascido a expressão ficar a ver navios.»
...(...)...
«"Estar a ver navios" (...) remete para o facto de alguém estar a ver as suas expectativas frustrarem-se. Dizia-se que, após a morte de D. Sebastião, na batalha de Alcácer-Quibir (1578), muitos foram os que se recusaram a aceitar este triste fim. Tornou-se então comum os "sebastianistas" deslocarem-se ao Alto de Santa Catarina para ver chegar o navio com o regressado rei a entrar na barra de Lisboa. Daí que, na sua génese, a expressão completa fosse: "Estar a ver navios no Alto de Santa Catarina. Mas não nos parece impossível que haja outra origem para esta expressão. Não raro, os proprietários dos navios que se dedicavam ao comércio postavam-se no Alto de Santa Catarina para ver chegar os seus barcos. Há ainda outras explicações. Uma remete para a expulsão dos judeus de Portugal, em 1497. Segundo o édito de D. Manuel, os judeus que se não convertessem ao cristianismo teriam de abandonar o país. Contudo, devido ao facto de não haver navios para todos, cerca de vinte mil foram baptizados "à força" defronte do palácio dos Estaus, em Lisboa, onde mais tarde seria a sede da Inquisição, e onde hoje se ergue o Teatro Nacional D. Maria II. Segundo a voz do povo, aqueles infelizes ficaram "a ver navios". Por fim, poderá esta expressão ter a sua origem aquando da primeira invasão francesa, em 1807. Quando as tropas de Junot entraram em Lisboa, a 30 de Novembro, não conseguiram capturar a família real, que horas antes embarcara para o Brasil. Os franceses teriam ficado apenas a "ver navios" saírem da barra do Tejo.»«Ficar a ver navios» – ou «estar a ver navios», como também se usa – significa «algo que não vem», «não conseguir o que se deseja» conforme a abonação do Dicionário de Expressões Correntes de Orlando Neves, significa «não conseguir o que se deseja». Ou «algo que não vem» Quanto à origem, acrescenta o seguinte:

«Esta expressão tem dado origem a várias interpretações. No seu Glossário Crítico de Dificuldades do Idioma Português, Vasco Botelho de Amaral resumiu as mais razoáveis: 'Antenor Nascentes explica a origem da expressão ficar a ver navios, como alusão aos armadores portugueses que nos séculos das conquistas ficavam no alto de Santa Catarina, em Lisboa, esperando as caravelas que vinham das Índias, da África ou do Brasil. Indica ainda a hipótese de certo milionário portuense que, da Torre da Marca, viu afundarem-se todos os navios da sua frota, por mor de violento temporal. Esta segunda hipótese é menos provável do que a primeira, mas caso é que há ainda outra, não referida por Nascentes: a do sebastianismo. Quando os Franceses dominaram Portugal, diz-se que os homens a que poderei chamar da resistência iam para o alto de Santa Catarina, em Lisboa, a ver os navios que trouxessem o Desejado. E da vanidade da espera haverá nascido a expressão ficar a ver navios.»
Carlos Marinheiro 18 de janeiro de 2001
Campos Linguísticos: Expressões idiomáticas

in https://historiaschistoria.blogspot.com
Vista geral da cidade de Lisboa durante a época
dos Descobrimentos em 1572
 (col. priv.)

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