Mote alheio
Perdigão perdeu a pena:
não há mal que lhe não venha.
Perdigão, que o pensamento
subiu em alto lugar,
perde a pena de voar,
ganha a pena do tormento.
Não tem no ar nem no vento
asas com que se sustenha:
não há mal que lhe não venha.
Quis voar a ua alta torre,
mas achou-se desasado;
e, vendo-se depenado,
de puro penado morre.
Se a queixumes se socorre,
lança no fogo mais lenha:
não há mal que lhe não venha.
Este vilancete foi composto sobre um mote popular, tornando-se importante na lírica de Camões. Segundo notas de Rodrigues Lapa, há uma informação antiga onde consta que Jorge da Silva, fidalgo português, se apaixonou pela Infanta Dona Maria, filha do rei D. Manuel. D. João III, irmão dela, ao ter conhecimento da situação, mandou castigar o ousado vassalo, ordenando a sua prisão no Limoeiro.
O poeta, explorou o tema ao máximo. Posteriormente, soube-se que alguns críticos levaram o vilancete muito a peito, fazendo de Camões o próprio apaixonado da Infanta Dona Maria.
Camões desenvolveu de forma soberba esta trova, baseado num trocadilho -pena (pluma) e pena (tormento) - como só ele era capaz de fazer!
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