quinta-feira, 16 de maio de 2013

"Plateia", um poema de Miguel Torga


imagem obtida em: viladealpalhao.blogspot.com

PLATEIA


Não sei quantos seremos, mas que importa?!
Um só que fosse, e já valia a pena.
Aqui, no mundo, alguém que se condena
A não ser conivente
Na farsa do presente
Posta em cena!

Não podemos mudar a hora da chegada,
Nem talvez a mais certa,
A da partida.
Mas podemos fazer a descoberta
Do que presta
E não presta
Nesta vida.

E o que não presta é isto, esta mentira
Quotidiana.
Esta comédia desumana
E triste,
Que cobre de soturna maldição
A própria indignação
Que lhe resiste.

 Miguel Torga

Publicado, originariamente, no Livro Câmara Ardente - Poemas (edição de autor).
 Encontra-se também publicado in Miguel Torga, Poesia Completa, Volume II, página 186, Edição da Dom Quixote (2007)

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