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Santana Lopes assumiu no domingo o seu discurso como se fosse uma conversa de amigos e o que se passou mostra um político indignado com o estado em que o nosso país se encontra.
Aqui vai a transcrição da notícia escolhida por mim:
RUI PEDRO ANTUNES E JOSÉ PEDRO MOZOS in OBSERVADOR.PT 09.02.2019
Santana fez do discurso uma conversa indignada entre amigos:
"Que país é este?
Em jeito de "conversa", Santana Lopes indignou-se com o estado do país, falou de "vergonha" no Parlamento, voltou a queixar-se de Sampaio e criticou Marcelo.
Em jeito de "conversa", Santana Lopes indignou-se com o estado do país, falou de "vergonha" no Parlamento, voltou a queixar-se de Sampaio e criticou Marcelo.
Na estreia perante os militantes do seu novo partido, Santana Lopes disse logo ao que ia: preferia fazer uma “conversa” em vez de um “discurso”. E assim fez, como se estivesse à mesa do jantar com a família ou num café com amigos, com um tom de indignação: “Que país é este?“, perguntou várias vezes.
O presidente do Aliança, que falava na Arena de Évora, elegeu um inimigo preferencial: a “frente de esquerda” e o governo de António Costa. Santana Lopes acusou o ministro das Finanças Mário Centeno de cometer um “crime de lesa-pátria” ao ter um défice de 0,6% do PIB, mas permitir a “degradação do Serviço Nacional de Saúde”. Sempre em jeito de “conversa” lamentou, mais uma vez, o que Sampaio lhe fez em 2004, disse que as presenças-fantasma no Parlamento eram “uma vergonha” e acusou o Governo de ir ao beija-mão aos poderosos de Bruxelas.
Ao todo, a “conversa” durou cerca de uma hora. Mesmo dizendo que o Aliança não se construiu “contra ninguém”, o principal inimigo desta vez foi a “geringonça”, a que Santana prefere chamar “frente de esquerda”. O presidente do Aliança lembrou que o “Governo de Passos Coelho transferiu mais dinheiro para o SNS do que atual” e acusou a “frente de esquerda” de andar a “sorver e a beijar a mão dos senhores todos poderosos de Bruxelas”. Santana admitiu que os problemas já existiam antes de António Costa, mas questionou também em jeito de indignação: “Mas a frente de esquerda formou-se para quê?” Santana Lopes expôs depois vários problemas concretos: “É normal esperar 1599 dias por consulta de urologia, como acontece em Vila Real? Em Chaves esperar dois anos e meio pelo otorrino? No Hospital de S. João esperar dois anos por uma consulta de combate à obesidade? Que SNS é este? Se me pedissem para inventar uma história impossível, eu contava que uma consulta de cardiologia pode demorar um ano e meio. Isto é o socialismo? Isto é ser de esquerda?”
O líder do Aliança denunciou a diferença no acesso à saúde de quem tem mais e menos posses: “Quem vai ao hospital público e tem posses vê que demora um ano e apanha um uber para um hospital privado para fazer a consulta. Mas quem não tem posses? Espera um ano?“. E terminou mais uma vez a questionar: “Que país é este?” Santana Lopes criticou depois o facto de um agente da PSP “que ganha menos de mil euros” ter de esperar 15 anos “para progredir a agente principal” e ganhar mais. E voltou a questionar: “A frente de esquerda melhorou o quê? O Serviço Nacional de Saúde? A Segurança Social? A Proteção Civil? Que país é este?” Para o líder do Aliança, o problema é que “o dia a dia passa” e as pessoas “vão considerando tudo normal”.
Seguindo no mesmo tom de conversa popular, Santana Lopes criticou ainda as presenças-fantasma no Parlamento: “Não se pode andar a trocar cartões para inventar que se está presente. Isto é uma vergonha.”
Pedro Santana Lopes chegou ao congresso do seu novo partido e a reação foi a habitual nestas paragens: silêncio total para ouvir. Começou com uma mensagem de motivação e orgulho pelo caminho percorrido até este primeiro congresso: “Cada vez mais me convenço de que esta foi a opção certa”. Não a mencionou, mas todos sabiam que se referia à rutura do PSD e à consequente fundação do Aliança. “Posso compreender quem dizia que isto seria um partido de uma pessoa só, mas o dia de hoje provou que assim não é: bastava esta presença impressionante para provar a dimensão verdadeiramente nacional do Aliança”, afirmou satisfeito. “Quem gosta de ver a política pelo lado bonito, como modo de intervenção cívica, em que a principal causa é o serviço da comunidade e em que fazemos obra – física e espiritual – tem de ficar esmagado, orgulhoso, satisfeito e feliz por ver que, apesar de a política ter situações pouco bonitas, há tanta gente disposta a acreditar que a política ainda vale a pena”. E resumiu: “Esta é a política que vale a pena, com “pê” grande”. Sampaio, as presenças-fantasma e o “salto” do Presidente
Apesar do novo partido, há coisas que nunca mudam. Santana voltou a lamentar o facto de Jorge Sampaio ter dissolvido a Assembleia da República e ter provocado a queda do seu governo-relâmpago: “Se o presidente da República não tivesse feito o que fez em 2004, o país hoje estaria hoje muito diferente, de certeza absoluta.”
Também houve lugar às inevitáveis referências, mesmo que o PSD para Santana seja passado. O líder do Aliança revelou que soube recentemente que Francisco Sá Carneiro fez o último discurso num comício em Évora e disse ter ficado surpreendido com a coincidência.
Num longo discurso, Santana Lopes destacou ainda que o “Aliança não é oposição do Presidente da República”, dizendo que Marcelo é um “homem sério, uma pessoa íntegra, um homem competente”. Não diz se o apoia neste Congresso porque “o próprio ainda não decidiu se se candidata”. Apesar disso, deixou críticas a Marcelo Rebelo de Sousa: “O Presidente deve ajudar o Governo, mas também não é preciso exagerar“. E admitiu que não gostou de “o ver saltar como saltou na greve dos enfermeiros”. Santana Lopes atravessou-se ainda pela bastonária, Ana Rita Cavaco, dizendo que está a ser atacada por “não ser da cor política deles [partidos que apoiam o Governo]”. Coisa diferente, denuncia Santana, fazem com “o senhor da FENPROF”, havendo “dois pesos e duas medidas, como em quase tudo no que respeita à frente de esquerda”.
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