quinta-feira, 16 de maio de 2019

António Costa ganhou mesmo a batalha política sobre o caso dos professores?

in rtp.pt

Sim, foi mesmo uma batalha política entre o primeiro-ministro António Costa e os professores do nosso país, tendo como base a contagem integral do tempo de serviço destes. 

A vida não estava fácil para António Costa com tantos problemas à sua volta como o caso das colocações de familiares do PS na administração pública, as sondagens para as eleições europeias com maus resultados e a ver fugir uma maioria absoluta...

Costa resolveu agir: ameaçou demitir-se se a lei da contagem integral do tempo de serviço dos professores fosse aprovada no parlamento, uma vez que considerava que não era possível governar, por causa da despesa para o ano de 2019 e para os anos seguintes.

Ao ler uma Crónica na SÁBADO, a propósito deste tema, escrita pelo Subdirector da referida revista, (cf. página 76, número 784 de 09 a 15 de maio do corrente), Carlos Rodrigues Lima, não posso deixar de a transcrever, uma vez que o modo como pensa e interpreta o que se passou, coincide muito com a opinião que formei sobre os factos ocorridos:

"Crónica 
Vá lá à sua vida
A vitória da política sobre o país
PARECE QUE ANTÓNIO COSTA GANHOU. Não se sabe bem o quê, mas tudo indica que foi uma batalha política, esse tipo de contenda que faz as delícias dos comentadores e analistas, mas que não resolve problema nenhum, neste caso o problema dos professores. Mas, Costa, diz-se por aí, ganhou. E com esta vitória confirmou, como analisou Marques Mendes, o novo Comentador Geral da República, depois de um longo mandato de Marcelo Rebelo de Sousa, o seu estatuto de "profissionalão" da política. Uma expressão que pode ter duas leituras: Costa é um bom político ou Costa não fez mais nada na vida além de estar encavalitado na política.
Percursos à parte, o que importa agora são os professores e como estes foram sucessivamente enganados pelo PS e, mais recentemente, por PSD e CDS. É preciso recuar até novembro de 2017, quando o atual governo e os principais sindicatos dos professores assinaram um acordo, em que ficou estabelecido que as partes aceitariam negociar "o modelo concreto da recomposição da carreira que permita recuperar o tempo de serviço". Ou seja - e não é preciso chamar um intérprete com poderes especiais de hermenêutica - as duas partes do acordo aceitavam a premissa da recuperação do tempo de serviço. O que faltava definir era o método.
Dois anos depois deste acordo, o primeiro-ministro foi à televisão (há bem poucos dias) declarar, que, afinal, "nem daqui a 10 anos será possível devolver o tempo integral, durante o qual as carreiras estiveram congeladas." Como a retidão de princípios e a "palavra dada é palavra honrada" (autor desconhecido...) são duas qualidades pouco ou nada habituais na corte em Lisboa, o primeiro-ministro é elogiado pela sua capacidade política, pelo brilhante jogo de xadrez que fez com a oposição e também com os seus parceiros de uma coligação, a quem um dia chamaram "geringonça". É difícil de entender como é que perante um dos maiores embustes deste Governo se elogia o brilhantismo político de Costa. Ou até será fácil. dado o pântano em que a política portuguesa mergulhou. Mais depressa se elogia o embuste do que a promessa cumprida. Os professores continuam com um problema, mas a última semana foi preenchida com "recuo", "esvaziamento", "feitiços contra o feiticeiro", "coligação negativa". Prioridades. 
Como se isto não bastasse, o CDS e o PSD resolveram entrar no jogo político, tendo apenas como objetivo amealhar uns milhares de votos para as próximas eleições. Ambos os partidos, os tais do rigor e mais não sei quê, revelaram que, juntamente com o PS, fazem parte desse clima pantanoso da política, em que os problemas concretos das pessoas são meros argumentos numa disputa eleitoral. A cobardia da direita foi desmascarada mal António Costa ameaçou com a demissão. Primeiro, o CDS apareceu a dizer que tinha votado a recuperação do tempo congelado aos professores, mas se houvesse condições para pagar. O PSD, depois de uma longa reflexão de Rui Rio, também procurou corrigir o tiro, declarando ter votado qualquer coisa, mas que não implicava despesa. Eis a maravilha da economia social democrata: vota-se favoravelmente uma despesa que não vai dar despesa.
Moral da história, caro leitor: a política não se faz para resolver os problemas dos cidadãos. A política cria expectativas nos cidadãos e alimenta-as até ao limite. Quando nos apercebemos que fomos enganados, nada como uma "crise política" para ninguém falar do engano em si e todas as atenções estarem centradas na tal crise, no perigo de ficar sem Governo, na instabilidade dos mercados, nos compromissos internacionais, na Zona Euro, no crescimento, nos sinais dados aos investidores, na imprevisibilidade do resultado das eleições, das maiorias absolutas ou relativas, das coligações à direita ou à esquerda num cenário de legislativas antecipadas, nos acordos parlamentares, etc. Confesse, caro leitor, depois desta última frase, já não quer saber dos professores, pois não? A política é isto mesmo."

in online.sapopt

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