A crise que este maldito vírus está a provocar em todo o mundo, é uma crise que põe em risco a saúde, a economia, as empresas, os postos de trabalho, o ensino em todas as escolas e universidades, as férias das famílias, enfim...põe a vida das populações mundiais completamente, "de pernas para o ar".
Ao ler o "Editorial - Do Diretor" da Revista Sábado, de 19 a 25 de março de 2020, na página 8, e escrito por Eduardo Dâmaso, não posso deixar de o partilhar aqui, pela maneira direta e objectiva como nos consegue transmitir exatamente como tudo se passa e o "calvário" por que se está a passar, diariamente.
Com a devida vénia, então aqui vai:
O mundo em quarentena
Em setembro passado a Organização Mundial de Saúde e o Banco Mundial apresentaram um vasto estudo sobre o risco de pandemias de doenças infecciosas muito graves, como o coronavírus. As conclusões eram um alerta esmagador. O estudo, intitulado O Mundo em Risco, apontava as mudanças climáticas, a urbanização desenfreada, a falta de água e de saneamento básico em países com estados muito frágeis, conflitos armados muito prolongados, a rapidíssima circulação de pessoas e bens na nova economia da globalização, as migrações descontroladas e em massa como as principais causas de criação e propagação de estirpes muito violentas. Sobretudo, o estudo dizia muito claramente que ninguém está preparado para enfrentar este desafio e que os líderes mundiais têm respondido às emergências de saúde pública com ciclos de pânico e negligência. Nada mais certo, como agora se prova de forma abundante. Até ao fim de 2019 apenas 59 países tinham um Plano de Ação para a Segurança na Saúde, mas nenhum deles tinha sido expressivamente financiado. Na verdade, nem políticos, nem cidadãos, dedicaram uns minutos a esta realidade, que também já não se pode sequer dizer que seja emergente, tendo em conta as décadas que passaram de várias pandemias muito graves.
Estudo apresentado em setembro pela OMS e pelo Banco Mundial é claro: líderes mundiais têm respondido às emergências sanitárias com ciclos de pânico e negligência. Nada mais certo e de prova abundante.
Como se previa aí estão as consequências de um pequeníssimo vírus e o mundo a entrar de quarentena. Em poucos dias, milhares de mortos e infetados em todo o lado, serviços de saúde em colapso, populações acantonadas na trincheira doméstica, milhares de empresas em Portugal e por essa Europa fora mandam os seus trabalhadores para um desemprego parcial, milhares de pequenas e médias empresas estão na iminência de fechar, orçamentos de publicidade cancelados, turismo parado, milhares de grandes empresas perdem fortunas nas bolsas, milhares de aviões ficam em terra. A vida social e cultural parou em toda a Europa e a economia mundial está no vermelho. A Europa está sequestrada pelo coronavírus e o mundo para lá caminha. E ninguém se pode queixar de não ter sido avisado sobre os riscos de uma grave pandemia.
Em setembro passado a Organização Mundial de Saúde e o Banco Mundial apresentaram um vasto estudo sobre o risco de pandemias de doenças infecciosas muito graves, como o coronavírus. As conclusões eram um alerta esmagador. O estudo, intitulado O Mundo em Risco, apontava as mudanças climáticas, a urbanização desenfreada, a falta de água e de saneamento básico em países com estados muito frágeis, conflitos armados muito prolongados, a rapidíssima circulação de pessoas e bens na nova economia da globalização, as migrações descontroladas e em massa como as principais causas de criação e propagação de estirpes muito violentas. Sobretudo, o estudo dizia muito claramente que ninguém está preparado para enfrentar este desafio e que os líderes mundiais têm respondido às emergências de saúde pública com ciclos de pânico e negligência. Nada mais certo, como agora se prova de forma abundante. Até ao fim de 2019 apenas 59 países tinham um Plano de Ação para a Segurança na Saúde, mas nenhum deles tinha sido expressivamente financiado. Na verdade, nem políticos, nem cidadãos, dedicaram uns minutos a esta realidade, que também já não se pode sequer dizer que seja emergente, tendo em conta as décadas que passaram de várias pandemias muito graves.
Hoje, portanto, é fácil fazer o debate da falta de preparação do Estado para enfrentar o coronavírus. Mas, nesta fase, não devemos ficar por aí. Em Portugal, tivemos logo a trágica metáfora do empresário italiano que veio visitar uma fábrica de Felgueiras e, ao apresentar sintomas gripais, ficou cinco horas fechado numa ambulância à porta da fábrica. Ninguém sabia o que fazer, ninguém tinha o equipamento adequado. Por isso, é sem surpresa que se assiste à falta de equipamentos básicos no serviço nacional de saúde e na protecção civil. Muito menos surpreende a falta de ventiladores, camas nos hospitais, atrasos na linha Saúde 24.
A política de Saúde dos sucessivos governos tem sido um desastre. Às cativações de verbas dos últimos anos, soma-se o corte draconiano do investimento na Saúde nos anos da troika e a bancarrota de Sócrates. O SNS, que é uma conquista excecional, não pode continuar a ser debatido em termos puramente ideológicos. O PS tem-se armado em guardião do SNS, mas pouco mais tem feito para melhorar a sua administração e prestação de cuidados básicos, do que gerir a crise.
À sua esquerda, PCP e BE resguardam-se no discurso puramente reivindicativo, como se os recursos fossem infinitos. À direita, o PSD e o CDS têm oscilado entre o nada absoluto e a visão ultraliberal, de favorecimento do setor privado. Enquanto não for procurado um verdadeiro consenso político sobre o SNS, alargado ao maior número possível de partidos e assente num rigoroso diagnóstico do estado dos serviços, que não mude consoante os resultados eleitorais, nunca sairemos da cepa torta. E, aí, a culpa também é nossa, cidadãos, que pela inércia e pela demissão cívica, consentimos aos partidos liberdade total numa matéria em que toda a sociedade deveria estar organizada para se fazer ouvir e pressionar o sentido das decisões, desde logo orçamentais. Como é possível pagar uma crise bancária que gerou perdas multimilionárias, causadas por gestores criminosos, que nunca foram nem serão penalizados, e deixar os profissionais da Saúde, Educação e Segurança entregues a salários miseráveis!?
Esta crise deveria implicar uma reflexão profunda sobre a relação de nós todos com a política e com a informação rigorosa e objetiva. Não deveríamos olhar para a política com a atual indiferença nem deixar cair as grandes marcas de jornalismo. Uma sociedade bem informada é uma sociedade mais livre e democrática. É necessário refletir sobre os mecanismos de decisão política e sobre o próprio Estado e a sua missão social. É essencial que os partidos percebam que essa exigência não vai parar. Desde logo porque o vírus, como diz a OMS, não será uma exceção no nosso tempo histórico. Se deixarmos, por omissão, ele será o novo normal. Mas essa é uma reflexão a fazer depois de vencermos esta crise. Unidos, atentos e exigentes, venceremos o bicho.
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