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China está a explorar a fraqueza do presidente da Rússia, Vladimir Putin, para maximizar a sua influência geopolítica, levando a uma inversão do equilíbrio de poder entre os dois aliados de longa data, disse Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, quinta-feira, num discurso no Centro de Políticas Europeias, em Bruxelas.
"Em vez de ficar escandalizado pela atroz e ilegal invasão da Ucrânia, o presidente Xi Jinping mantém a sua 'amizade sem limites' com a Rússia de Putin. Mas tem havido uma mudança de dinâmica na relação entre a China e a Rússia", acrescentou.
A chefe do executivo europeu refere-se à recente visita do presidente chinês, Xi Jinping, à Rússia, com o propósito de estreitar os laços bilaterais e de discutir um plano de paz com a Ucrânia, elaborado pelo governo de Pequim.
"E é evidente que o equilíbrio de poder nessa relação - que durante a maior parte do século passado favoreceu a Rússia - se inverteu agora", considera von der Leyen.
A União Europeia (UE) e os seus aliados ocidentais têm acompanhado, atentamente, os últimos passos dados pela China na cena internacional, avisando do perigo de eventual ajuda militar à Rússia e considerando o plano de paz como parcial, por esbater as linhas entre agressor e vítima e não reconhecer a realidade dos territórios ocupados.
"Qualquer plano de paz que consolide efetivamente as anexações russas não é viável. Temos de ser francos sobre este ponto.
Ursula von der Leyen
Presidente da Comissão Europeia"
O papel da China na guerra da Ucrânia será um "fator determinante" para definir o compromisso entre Bruxelas e Pequim, avisou von der Leyen.
"A China tem a responsabilidade de desempenhar um papel construtivo no avanço de uma paz justa. Qualquer plano de paz que consolide efetivamente as anexações russas não é viável. Temos de ser francos sobre este ponto", acrescentou a líder europeia.
UE e China podem ter caminho mais tortuoso pela frente
A presidente da Comissão Europeia deverá visitar a capital chinesa, na próxima semana, com o presidente francês, Emmanuel Macron.
No discurso de 40 minutos, hoje, a presidente da Comissão Europeia pintou um quadro algo sombrio sobre o estado atual das relações UE-China, descrevendo-as como "mais distantes e mais difíceis". Também acusou o governo de Pequim de ter violado as regras do livre comércio, intimidado países de pequena dimensão, violado os direitos humanos, endurecido a sua posição militar e intensificado as campanhas de desinformação e coerção em todo o mundo.
"Estas ações revelam uma China que se está a tornar mais repressiva a nível interno e mais assertiva no estrangeiro. A China virou a página da era da 'reforma e abertura' e está a avançar para uma nova era de segurança e controlo", disse von der Leyen.
"O objetivo claro do Partido Comunista Chinês é uma mudança sistémica da ordem internacional com a China no seu centro. Vimo-lo com as posições da China em organismos multilaterais que mostram a sua determinação em promover uma visão alternativa da ordem mundial", afirmou.
Sinais de que os países europeus estão a recuar em relação às ambições de relacionamento com a China são a proibição do uso da aplicação para telemóvel chinesa TikTok por parte de funcionários em organismos de governo (temendo que as informações sejam usadas para espionagem); o congelamento de um acordo de investimento e a dificuldade em chegar a acordo sobre como lidar com as lições da pandemia da COVID-19.
Diálogo deve continuar aberto
"A nossa relação é desequilibrada e cada vez mais afetada por distorções criadas pelo sistema capitalista estatal da China. Portanto, precisamos de reequilibrar esta relação.
Ursula von der Leyen
Presidente da Comissão Europeia"
"Creio que não é viável - nem no interesse da Europa - que nos dissociemos da China. As nossas relações não são a preto e branco e a nossa resposta também não pode ser," disse von der Leyen, apelando à estabilidade diplomática e linhas de comunicação abertas.
A presidente mencionou as alterações climáticas e a proteção da biodiversidade como duas áreas onde a UE e a China podem encontrar um terreno comum para enfrentar os desafios globais.
Sobre a economia, von der Leyen observou que a maior parte do comércio de bens e serviços continuava a ser "mutuamente benéfico" e livre de riscos. A China é o principal parceiro comercial da UE quando se trata de bens, com fluxos totais no valor de quase 700 mil milhões de euros, em 2021.
"Mas a nossa relação é desequilibrada e cada vez mais afetada por distorções criadas pelo sistema capitalista estatal da China. Portanto, precisamos de reequilibrar esta relação com base na transparência, previsibilidade e reciprocidade", acrescentou von der Leyen.
A presidente alertou que há "uma fusão explícita na China dos seus setores militar e comercial" e receia as potenciais implicações para a transferência de tecnologias sensíveis e propriedade intelectual, sugerindo que o seu executivo propusesse um novo instrumento para avaliar certos tipos de investimento.
Von der Leyen defendeu o corte da dependência europeia da China, particularmente nos setores da tenologia ecológica e das matérias-primas, cuja procura está a aumentar aceleradamente face à tentativa de criar indústrias e produção energética que não emitam gases poluentes para a atmosfera, causadores de alterações climáticas.
FONTE: in pt.euronews.com. 30.03.2023
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