domingo, 21 de dezembro de 2025

"Verdade de La Palice": o óbvio!

 Verdades de “Monsieur de La Palisse”

imagem in sinalaberto.pt

Sobre a Verdade de La Palice:

É uma expressão que utilizamos, mas nem todos conhecemos a sua origem, o seu significado e a sua história, na maior parte das vezes que a pronunciamos.

Isso acontece com muitas das expressões correntes pronunciadas pelos falantes, no seu dia-a-dia.

Para não estar a dar palpites que não se sabe se estão corretos, lá fui pesquisar. 

E o resultado dessa busca, é esta:

Primeira Pesquisa:

'Em Portugal, empregam-se as duas grafias: La Palice ou La Palisse.

Uma verdade de La Palice (ou lapalissada / lapaliçada) é evidência tão grande, que se torna ridícula.

O guerreiro francês Jacques de Chabannes, senhor de La Palice (1470-1525), contudo, nada fez para denominar hoje um truísmo. Fama tão negativa e multissecular deve-se a um erro de interpretação.

Na sua época, este chefe militar celebrizou-se pela vitória em várias campanhas. Até que, na batalha de Pavia, foi morto em pleno combate. E os soldados que ele comandava, impressionados pela sua valentia, compuseram em honra dele uma canção com versos ingénuos:

"O Senhor de La Palice / Morreu em frente a Pavia; / Momentos antes da sua morte, / Podem crer, inda vivia."

O autor queria dizer que Jacques de Chabannes pelejara até ao fim, isto é, "momentos antes da sua morte", ainda lutava. Mas saiu-lhe um truísmo, uma evidência.

Segundo a enciclopédia Lello, alguns historiadores consideram esta versão apócrifa. Só no século XVIII se atribuiu a La Palice um estribilho que lhe não dizia respeito. Portanto, fosse qual fosse o intuito dos versos, Jacques de Chabannes não teve culpa.

N.E. (30/10/2014) – Um consulente entendeu enviar a seguinte achega, que consideramos importante aqui registar:  «Em relação à brincadeira com o nome do Senhor de La Palice, penso que a canção mencionada era paródia. Diz-se que houve uma canção composta pelos seus soldados, a qual enaltecia o valoroso guerreiro e o epitáfio do guerreiro contém o verso original: «Ci gît Monsieur de La Palice: Si il' n'était pas mort, il ferait encore envie.» («Aqui jaz o Senhor de La Palice: Se não estivesse morto, ainda faria inveja.»). Ora na grafia antiga, o f é extremamente parecido com o ʃ (s longo) e (acidentalmente ou talvez não) isto poderia ler-se: «Si il' n'était pas mort, il serait encore en vie.» («Se não estivesse morto, ainda estaria vivo.»). Daí nascem depois várias paródias, incluindo a mencionada por vós.»'

Por João Carreira Bom (17.03.2000)

in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/la-palice-ou-la-palisse/4990 [consultado em 17-12-2025]


Segunda Pesquisa:

 Verdade de La Palice

Dos militares franceses nasceu a expressão Verdade de la Palice que significa uma evidência tão óbvia e tão grande que se torna ridícula.

Um chefe militar francês, Jacques de Chabannes, marquês e senhor de la Palice, fo comandante de muitas companhias militares. Alcançou vitórias, conheceu a fama e ganhou a admiração soa soldados.

Na hora da morte, na Batalha de Pavia, em 1525, os soldados compuseram em sua honra uma quadra, que, traduzida, rimaria assim:

O Senhor de La Palice

Morreu frente a Pavia.

Pouco antes de morrer, 

Podem crer, ainda vivia.

O demasiado óbvio (pouco antes de morrer inda vivia) passou a verdade de La Palice. Anos mais tarde, teríamos a socialite Lili Caneças a dizer num programa de TV da RTP que "estar vivo é o contrário de estar morto", quando se referia ao estado de fragilidade dos toxicodependentes que vivem entre a vida e a morte. Uma verdade de La Caneças.

Há quem defenda, no entanto, que a expressão La Palice nasce de um erro de tradução. No original dessa quadra de homenagem ao general lia-se:

Hélas, La Palice est mort,

Est mort devant Pavie.

Hélas, s'il n'était mas mort,

Il feria encore envie.

A última frase da estrofe - il ferait encore envie - acabou sendo lida, erradamente, como Il serait encore en vie ("Ele ainda estaria vivo").

A tradução correta seria "ainda fazia inveja". Mas o que ficou para todo o sempre foi que La Palice ainda era vivo pouco antes de morrer. 

in Puxar a brasa à nossa sardinha, de Andreia Vale, ed. Manuscrito

sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

Pablo Picasso: um pensamento profundo

Pablo Picasso
Imagem in : pt.wikipedia.org

Pensamento:

"Toda a criança é artista.

O problema é 

como permanecer artista 

depois de crescer".

Pablo Picasso

Quem foi Pablo Picasso?

Pesquisei em :

pt.wikipedia.org



Pablo Ruiz Picasso (Málaga, 25 de outubro de 1881Mougins, 8 de abril de 1973) foi um pintor, escultor, ceramista, cenógrafo, poeta e dramaturgo espanhol, considerado um dos mais importantes e populares pintores do século XX

É conhecido como co-fundador do cubismo ao lado de Georges Braque, inventor da escultura construída, inventor da colagem e pela variedade de estilos que ajudou a desenvolver e explorar. Dentre as suas obras mais famosas estão os quadros cubistas As Meninas D’Avignon (1907) e Guernica (1937), uma pintura do bombardeio alemão de Guernica durante a Guerra Civil Espanhola.

Picasso, Henri Matisse e Marcel Duchamp são considerados os três artistas que mais realizaram desenvolvimentos revolucionários nas artes plásticas nas décadas iniciais do século XX, responsável por importantes avanços na pintura, na escultura, na gravurae nas cerâmicas.

O pintor de Málaga demonstrava talento artístico desde jovem, pintando de forma realista por toda a sua infância e adolescência. 

Durante a primeira década do século XX, o seu estilo mudou graças às suas experiências com diferentes teorias, técnicas e ideias. A sua obra geralmente é classificada em períodos. 

Enquanto os nomes de muitos dos seus períodos finais são controversos, os períodos mais aceites da sua obra são o período azul (1901-1904), o período rosa (1904-1906), o período africano (1907-1909), o cubismo analítico (1909-1912) e o cubismo sintético (1912-1919).

Excepcionalmente prolífico durante a sua longa vida, Picasso conquistou renome universal e imensa fortuna graças às suas conquistas artísticas revolucionárias, tornando-se uma das mais conhecidas figuras da arte do mesmo século.

LER MAIS EM:
pt.wikipedia.org

terça-feira, 16 de dezembro de 2025

"Resvés Campo de Ourique": expressão idiomática muito usada pelos portugueses

Resvés Campo de Ourique

Nenhuma descrição de foto disponível.
encontrei esta imagem in facebook.com

Após pesquisa sobre esta expressão que efetuei em vários sítios da Net e em livros sobre esta expressão, gostei particularmente destas explicações extraídas de "fontes dignas", que nos ajudam a perceber a sua história.

Vamos, então, conhecer a sua origem:

Primeira Versão:

'O nosso idioma

A expressão «resvés Campo de Ourique»

A sua origem e significado

Qual o significado e origem da expressão «resvés Campo de Ourique»?

Nos dias de hoje, a expressão «resvés Campo de Ourique» significa «à justa», «à tangente», «por um triz» ou «ao pé de». É formada pelo termo resvés que significa «rente; na medida certa» e pelo nome do bairro lisboeta Campo de Ourique.

Segundo Orlando Neves, no seu Dicionário de Expressões Correntes, uma das explicações para a origem desta expressão está relacionada com o lago de sangue que ficou em Ourique, na célebre batalha de D. Afonso Henriques contra os mouros. Todavia, outros autores defendem que a origem da expressão remonta ao terramoto de Lisboa que, como se sabe, destruiu a cidade até à zona de Campo de Ourique que, por um triz, ficou intacta.

Portando, «resvés Campo de Ourique» usa-se para indicar algo que está próximo do limite.'

in 
Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/artigos/rubricas/idioma/a-expressao-resves-campo-de-ourique/5151 [consultado em 15-12-2025]

Segunda Versão:

Que expressão usa quando quer dizer que estacionou o carro mesmo à tangente? Ou que entregou um trabalho mesmo à justa, em cima do prazo? Ou quando alguma coisa nos corre bem, mas foi por um triz? Claro está, foi mesmo, mesmo resvés Campo de Ourique. Mas saberemos o que quer dizer?

Para esta expressão, há mais do que uma explicação. A mais conhecida encontra justificação no Terramoto de Lisboa, a 1 de novembro de1755.

Naquela manhã, o terrível sismo que abalou a capital provocou um maremoto de tal dimensão que terá chegado perto de Campo de Ourique, mas aquela zona escapou intacta, mesmo à tangente. 

É a versão mais romântica, diria eu - e a de que mais gosto.

Mais uma outra teoria diz que, na Lisboa oitocentista, os limites da cidade se assinalavam dentro deste bairro, na Rua Maria Pia. Tudo o que ficasse fora do Vale de Alcântara era já "fora de portas".

Campo de Ourique, com exceção do Casal Ventoso, ficava em Lisboa, sim, mas apenas resvés, ou seja, à justa.

FONTE: Puxar a brasa à nossa sardinha, de Andreia Vale, www.manuscrito.pt

quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Palavra do ano: a vencedora

Apagão em Portugal
imagem conseguida in: arquivos.rtp.pt

APAGÃO foi a palavra eleita.

É claro que a palavra escolhida se relaciona com o apagão (falha de energia elétrica) que aconteceu a 28 de abril deste ano e que paralisou completamente o nosso país, privando-nos de bens essenciais a que estamos habituados no nosso quotidiano ("sem transportes, sem serviços básicos e sem comunicações" ('palavradoano.pt').

As candidatas à Palavra do Ano eram: 

  • imigração
  • tarefeiro
  • perceção
  • flotilha
  • fogos
  • agente (I A)
  • moderado
  • elevador
  • eleições
A Palavra do Ano é uma iniciativa da Porto Editora
(in: palavradoano.pt)

quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Citações para reflexão

imagem in: pt.wikipedia.org


"Deus é mais conhecido por O não conhecermos." 

(Santo Agostinho, in De Ordine)


"O homem deseja ser feliz, mesmo vivendo de tal 

forma que torna impossível a felicidade."

(Santo Agostinho, in A Cidade de Deus)


"O homem vangloria-se muitas vezes 

do seu desprezo pela glória."

(Santo Agostinho, in Confissões) 

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Clara Pinto Correia "desapareceu" e ficámos mais "pobres"!



imagem obtida in: pt.wikipedia.org

Foi com grande consternação que li esta notícia na imprensa e não posso deixar de comentar que perdemos uma excecional escritora, jornalista e bióloga!

Foi uma grande apaixonada por tudo com quanto se ocupava na sua vida. Ficámos agora sem o seu contributo nesses domínios.

Tinha apenas 65 anos! 

Sofreu uma paragem cardíaca e já no verão tinha tido um AVC. 

Deveras lamentável!

Aqui partilho a triste notícia :

Morreu a escritora, bióloga e professora universitária Clara Pinto Correia, aos 65 anos de idade, segundo a informação que está a ser avançada por vários órgãos de comunicação nacionais.

O jornal “Correio da Manhã” reporta que a autora foi encontrada morta em casa, em Estremoz, no distrito de Évora, na sequência de um “episódio de doença súbita”. Os meios de socorro acabariam por ser acionados na manhã desta terça-feira. 

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, já reagiu à notícia, tendo apresentado “à família, amigos e admiradores de Clara Pinto Correia os seus afetuosos sentimentos, consternado pela sua partida prematura”, lê-se em nota publicada no site da Presidência.

Pela mesma via, o chefe de Estado referiu que “Clara Pinto Correia juntava à alegria de viver, uma inteligência e um brilho que se expressaram na intervenção oral e escrita, no magistério científico e na comunicação com os outros”, escrevendo ainda: “Não deixou nunca ninguém indiferente. Daí o sentido de ausência por todos partilhado neste momento”. 
FONTE: in pt.euronews.com

segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Umbigo: afinal, por que motivo todos o temos?

19145
imagem que obtive in:
https://desmitificandomitos.wordpress.coml

Tendo lido numa revista juvenil um artigo sobre o umbigo, fiquei com um conhecimento mais alargado sobre esta "cicatriz" do nosso corpo.

Com efeito, já tinha pensado que poderia ser um órgão, mas enganei-me redondamente. Não o é, e nem sequer está ligado seja a que órgão for.

Não passa de uma "recordação", na medida em que significa que estivemos ligados à nossa mãe, durante a gravidez desta. 

Vou resumir o que li: todos os nascidos dependem do útero da mãe e estão dentro de uma bolsa, com o nome de placenta. "Flutuamos" num líquido, chamado amniótico. 

Como o bebé não consegue alimentar-se nem respirar por si, tem a ajuda da mãe , porque está ligado a ela pelo cordão umbilical (uma espécie de um tubinho por onde passam os nutrientes essenciais, enviados pela sua progenitora, bem como o oxigénio): pois é verdade: tudo o que ela ingere passa para o novo ser.

Quando se nasce, os profissionais de saúde que assistem ao parto, cortam logo o cordão umbilical, sinal de que a criança começa a respirar por si própria. 


imagem obtida in: blog.yogi.baby

Então, depois do nascimento, o aspeto importante da alimentação que passa a ter: a mãe amamenta o bebé (diretamente de forma física e natural) ou então, no caso de não ter leite suficiente, ou algo que o impeça, o bebé é alimentado doutra forma porque há outras alternativas de lhe fornecer o leite (ex: o biberon), sempre sob indicação médica. 

Sem comer é  que nãofica !!! Isso não acontece, tal é o "berreiro"!!! 😁😂😆

Conclusão: o umbigo é uma cicatriz que resultou do corte do tal cordão umbilical (ligação entre a mamã e o bebé enquanto ele está no útero dela, em gestação).


Fases do leite materno
imagem obtida in maemequer.pt
(bebé a ser amamentado diretamente do seio da sua mãe)


bebê mamadeira quantidade
imagem obtida no blog:https://blog-pt.kinedu.com
(bebé alimentado a biberon)

sábado, 29 de novembro de 2025

Teixeira de Pascoaes - uma reflexão sua sobre Camilo Castelo Branco

imagem in correiodoporto.pt

(Teixeira de Pascoaes 1877-1952)


"O Porto é a cidade de Camilo"

Teixeira de Pascoaes

Teixeira de Pascoaes: Poeta e ensaísta, concluiu os estudos liceais em Coimbra, onde viria a frequentar o curso de Direito. Exerceu a carreira de advogado, no Porto e em Amarante, até 1908. Integrado no movimento cívico e cultural portuense “Renascença Portuguesa”, e cofundador de A Águia, em 1911, Teixeira de Pascoaes foi um dos principais teorizadores do Saudosismo, movimento literário, religioso e filosófico de autoconhecimento e reconstrução nacional, desencadeado pela convulsão política e social de 1910, e que, nas páginas daquela publicação, congregará, num vasto plano programa de revitalização social e cultural, a colaboração de Teixeira de Pascoaes, Mário Beirão, Leonardo Coimbra, Jaime Cortesão, Afonso Duarte, António Carneiro, Sant’Anna Dionísio, Hernâni Cidade, Adolfo Casais Monteiro, Augusto Casimiro, Augusto Gil, Afonso Lopes Vieira, Raul Proença, António Sérgio, António Correia de Oliveira, Manuel Laranjeira, Sampaio Bruno, entre outros. 

Arreigadamente nacionalista, profetizador de um ressurgimento nacional, Pascoaes encontrará na “Saudade” o carácter definidor da especificidade do ser português: para o autor de Marânus, “quem surpreender a alma portuguesa, nas suas manifestações sentimentais mais íntimas e delicadas, vê que existe nela, embora sob uma forma difusa e caótica, a matéria de uma nova religião, tomando-se a palavra religião como querendo significar a ansiedade poética das almas para a perfeição moral, para a beleza eterna, para o mistério da Vida… Ora a alma portuguesa sente esta ansiedade duma maneira própria e original, o que se nota facilmente analisando os cantos populares, as lendas, a linguagem do povo, a obra de alguns poetas e artistas e, sobretudo, a suprema criação sentimental da Raça – a Saudade!” (manifesto da “Renascença Portuguesa”, publicado em fevereiro de 1914, em A Vida Portuguesa, citado por GUIMARÃES, Fernando in Poética do Saudosismo, Lisboa, 1988, p. 62). “Verbo do novo mundo português” a Saudade é definida por Pascoaes como “o próprio sangue espiritual da Raça, o seu estigma divino, o seu perfil eterno” e seria através da revelação desta “saudade no seu sentido profundo, verdadeiro, essencial, isto é, o sentimento-ideia, a emoção-reflectida, onde tudo o que existe, corpo e alma, dor e alegria, amor e desejo, terra e céu, atinge a sua unidade divina”, da “Saudade vista na sua essência religiosa” que surtiria a “grandeza do momento atual da Raça Portuguesa” (Pascoaes, in A Águia, n.º 1, 2.ª série, p. 1), representada maximamente pelos seus poetas, em quem a saudade se revelou. 

Simultaneamente movimento literário de cariz neorromântico e propensão metafísica, e doutrina religiosa, política e filosófica, o saudosismo de Pascoaes concorre para o adensar, nas primeiras décadas do século, de um clima profético, de expectativa sebastianista e messiânica, que não deixaria de eivar o espírito do modernismo e, muito particularmente, a reflexão e criação poética de Fernando Pessoa. A tarefa de “divinização da substância espiritual e mítica da Pátria, resumida na figura da Saudade, ambígua senhora-da-noite e aurora do futuro” (cf. LOURENÇO, Eduardo in O Canto do Signo, Lisboa, Presença, 1994, p. 139), será prosseguida, na ensaística de Pascoaes, e mau grado a crítica formulada por António Sérgio, em 1913, nas páginas de A Águia (“Duas Epístolas aos Saudosistas”), contra o carácter nebuloso e passadista da doutrina saudosista, em volumes como O Espírito Lusitano e o Saudosismo (1912); O Génio Português na sua Expressão Filosófica, Poética e Religiosa (1913) ou A Era Lusíada (1914). Retirado, desde 1913, no solar de Pascoaes, em Gatão, para se dedicar exclusivamente à meditação e à criação poética, o conjunto dos seus volumes poéticos apresentam-se como modelares relativamente a alguns traços de uma estética literária saudosista utilizando “alegorias referidas à Pátria-Saudade ou uma transfiguração messiânica, as correspondências e a realização verbal do inefável, os símbolos de natureza patriótica ou relacionados com a especiosa emergência duma alma portuguesa.” (cf. GUIMARÃES, Fernando, op. cit., p. 9); e manifestando uma tendência para a fusão entre contemplação e paisagem, para sugerir um clima profético e visionário, para o culto da tradição, do misticismo, do panteísmo, do génio da Raça e, finalmente, para a valorização da “fisionomia das palavras” (id. ibi., p. 15), isto é, do valor expressivo das próprias formas gráficas. A sua obra e a sua aura exerceram, no entanto, uma influência que extravasou os limites cronológicos do movimento Saudosista, enquanto paradigma (em autores como Eugénio de Andrade ou Agustina Bessa-Luís, entre outros) de uma postura de humildade do homem diante da criação; de compreensão da poesia enquanto forma de revelação e intuição extasiada do desconhecido; da importância concedida à palavra que, de “elemento regional-nacional conduzindo à transcendência”, importa como “objeto de prospeção do lugar onde o Verbo se individualizou” (MARGARIDO, Alfredo, Teixeira de Pascoaes – A Obra e o Homem, Lisboa, Arcádia, 1961, p. 134); ou da vivência da poesia enquanto epicentro “de uma tensão própria ao homem e resultante de tendências contraditórias que o dividem e fazem oscilar entre o informe e o pensamento-forma, entre o mal e o bem, entre o tempo e a eternidade” (cf. LOPES, Silvina Rodrigues, Poesia de Teixeira de Pascoaes, Lisboa, ed. Comunicação, 1987, p. 24).

sexta-feira, 28 de novembro de 2025

Sebastião da Gama e o seu poema "pelo sonho é que vamos"

imagem in: leituria.com


"Pelo SONHO é que vamos.

comovidos e mudos.

Chegamos? Não chegamos?

Haja ou não haja frutos, 

pelo sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos,

Basta a esperança naquilo

que talvez não faremos.

Basta que a alma demos, 

com a mesma alegria,

ao que desconhecemos

e do que é do dia-a-dia.

Chegamos? Não chegamos? 

- Partimos. Vamos.  Somos." 

Sebastião da Gama

quinta-feira, 27 de novembro de 2025

António Nobre: um poema dedicado ao rio Mondego

imagem obtida in: www.olx.pt


"Vou encher a bilha e trago-a

Vazia como a levei!

Mondego, qu' é da tua água ,

Qu' é dos prantos que eu chorei?"

(António Nobre)


Já que o poeta se refere à região de Coimbra, 

partilho mais esta quadra: 


"Coimbra p' ra ser Coimbra

três coisas há-de contar

guitarras, tricanas lindas

capas negras a adejar"

(cancioneiro popular)

imagem conseguida em: atoga.pt

terça-feira, 25 de novembro de 2025

Bíblia: uma história maravilhosa sobre a multiplicação dos peixes


Pintura "A multiplicação dos peixes", de Rafael. — Foto: Wikimedia Commons
imagem (foto) obtida in: Wikipedia Commons

Pintura "A multiplicação dos peixes", de Rafael.
 

Vou contar uma história que se encontra narrada na Bíblia e que muitos de nós já conhecemos.

Depois de num determinado dia Jesus ter falado aos que o ouviam nas terras da Galileia, resolveu entrar na embarcação de Pedro, seu discípulo  e pescador, pedindo-lhe que lançasse as redes ao mar.

Pedro ficou um pouco contrariado, porque se encontrava muito cansado, bem como os seus companheiros, na medida em que tinha passado a noite toda a trabalhar e nada tinham pescado.

Não era costume a faina piscatória ter lugar de manhã. Era mais fácil serem bem sucedidos durante a noite. Logo, o pedido de Jesus, deixou Pedro admirado com o pedido de Jesus. 

Mas, mesmo assim, resolveu obedecer ao anseio de Jesus. Lá lançaram as redes ao mar e, quando resolveram puxá-las, estavam muito pesadas por virem tão carregadas de peixe, que resolveram pedir auxílio aos pescadores de uma outra embarcação. Eram "toneladas" de peixe, a carga era enorme ao ponto de as embarcações quase irem ao fundo.

Levaram as redes para a praia, carregadinhas de tanto alimento com que o mar os presenteara. 

E foi nesse momento que os pescadores perceberam que o que se tinha passado fora um milagre de Jesus.

Esta história pode ler-se na Bíblia em Lucas 5:1 - 11.

segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Soluções das adivinhas publicadas a 20 de novembro. O prometido é devido...

Exemplos de adivinhas infantis em balões de fala.
imagem obtida in: escolakids, uol.com.br


Ora então:
 
Aqui estão as Soluções das adivinhas que publiquei no meu post de dia 20 de novembro:

1 - 1, 2 e 3  (1+2+3=6   e   1 x 2 x 3 = 6)

2 - Sete 

3 - Balança

4 - Nuvem

domingo, 23 de novembro de 2025

Oceanos: a sua proteção é uma tarefa de todos nós

imagem obtida in: in infoescola.com

Gostaria de dedicar esta minha publicação a uma reflexão conjunta sobre a vida dos Oceanos, que, como todos sabem, devido a vários fatores, se encontram em perigo.

Os Oceanos são indispensáveis à vida do nosso Planeta, pois para nós, humanos, representam um papel fundamental, e não menos para os animais e plantas que neles vivem. 

Fornecem-nos a todos(humanos/animais/plantas) muitos recursos: o alimento de que necessitamos, o acolhimento quando dele precisamos, a ligação entre os vários países do mundo. 

Uma outra função sua e muito importante (principalmente para os meteorologistas e cientistas dos fenómenos que surgem na natureza) é a sua grande ajuda na definição do clima.

O aquecimento global e a poluição constituem uma grande ameaça para o nosso querido Planeta Terra. Para além disso, há uma abuso em relação à pesca: um excesso da parte de muitos países.

Claro que todos temos consciência destes problemas todos e é por isso que, no meu título falo de que TODOS NÓS temos de fazer a parte que nos cabe, tratando os mares, os oceanos, as praias, como eles merecem - dando-lhes a qualidade de vida que eles merecem!

Não é só servirmo-nos deles para o que nos convém, é preciso termos "atitude", sermos "conscienciosos" e :

  • não deitar lixo nem químicos ao mar
  • não maltratar as praias, deixando-as umas autênticas "lixeiras" depois de lá passarmos uma manhã, uma tarde, ou o dia inteiro; pelo contrário, devemos manter a areia sempre limpa
  • utilizar os contentores de reciclagem das praias 
  • não arrancar nem levar connosco as plantas que observamos fazerem parte da praia, vivendo nas areias, nas dunas ou até junto às costas marinhas
  • reduzir a nossa pegada de carbono

sexta-feira, 21 de novembro de 2025

Origem, significado e história de algumas palavras de origem bíblica

imagem in: globaltranslations.com.br


Usamos muitas palavras no nosso dia-a-dia que nem "sonhamos" que vêm da Bíblia; outras, ouvimo-las, mas não conhecemos a sua origem. 

Acrescento assim neste meu post, mais alguns exemplos como continuação de outras já por mim publicadas anteriormente. A lista dessas palavras e expressões é infinita e voltarei a ela, sempre que me dispuser a partilha-la.

Então, mais alguns exemplos de palavras de origem bíblica:

Maná - alimento milagroso dado por Deus ao povo de Israel no deserto 

Sábado - dia de descanso sagrado

Génesis - origem, início

Dilúvio - grande inundação

Faraó - título dos reis do Egito, frequentemente mencionado na Bíblia

Babel - confusão de línguas, origem do termo "balbúrdia"

Samaritano - pessoa bondosa, inspirada na parábola do Bom Samaritano

Fariseu - pessoa hipócrita, baseada no comportamento dos Fariseus nos Evangelhos

Judas - traidor

Bênção - graça divina

Páscoa - celebração religiosa judaica e cristã

Santuário - local sagrado

Hoje, fico-me por aqui, mas como há muitas mais, incluindo expressões idiomáticas, um dia destes continuarei a postá-las!

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Adivinhas para os mais pequenos

imagem in: brincacomigo.pt


1 - Há três números que dão o mesmo resultado quando somados ou multiplicados por eles próprios (exclui o zero). Quais são esses números?

2 - Se um casal tem quatro filhas (4) e cada uma das meninas tem um irmão, qual o número de pessoas que compõem essa família?

3 - Qual é a coisa, qual é ela, que tem sempre o mesmo tamanho, seja qual for o seu peso?

4 - O que é, o que é, que não tem asas mas voa, não tem olhos mas chora?

Agora, vamos lá brincar um pouco e puxar por essa cabecinha... (as soluções aparecem no post que publicarei na próxima segunda-feira, dia 24 de novembro de 2025. Prometo!).

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

terça-feira, 18 de novembro de 2025

Anedotas para dispor bem

(As anedotas deste vídeo são mais para adultos)...



E mais esta, para todos:

O filho pergunta ao pai:

- Pai, sabes como se chama um pato que nunca se entende com os outros patos?

- Não, filho, nunca pensei nisso. Mas então, diz-me lá tu que nome lhe dão?

- ANTIPÁTICO!

sábado, 15 de novembro de 2025

"Enfiar o barrete" ou "enfiar a carapuça" é uma expressão idiomática utilizada com frequência

imagem obtida em : portuguesices.com

"Enfiar o barrete" ou "Enfiar a carapuça" praticamente significam o mesmo, como os exemplos mais abaixo o demonstram.

Torna-se engraçado na medida em que gosto de pesquisar estas expressões pela curiosidade que despertam em mim: fico a conhecer o seu verdadeiro sentido e a sua história - sim, porque as expressões contêm um conjunto de palavras que têm sempre uma significação e uma história. 

Ao conhecê-las, acabam por me divertir imenso, pois daí infiro a riqueza, a variedade de sentidos e até alguns aspetos linguísticos da nossa língua, que gosto muito de aprofundar.

Então aqui vai a partilha desta pesquisa, baseada na fonte de que me socorri:


Hoje, iremos explicar duas expressões que contêm referência a um tipo de chapéu de forma cónica feito de lã ou pano conhecido como barrete ou carapuça.

A primeira é enfiar um barrete ou a carapuça a alguém e descreve uma situação em que uma pessoa é enganada, burlada ou ludibriada. Em Lisboa, é frequente encontrar-se pessoas a vender na rua, mas os artigos que nos tentam vender, ou melhor dizendo impingir, nem sempre são da melhor qualidade ou podem até ser roubados. Portanto é necessário ter muito cuidado.

Esses vendedores abordam e tentam vender os seus artigos sobretudo aos turistas, não é?

Sim, porque frequentemente os locais já conhecem as suas “técnicas de venda” e não caem tão facilmente na ratoeira.

Mas os produtos comercializados por esses vendedores ambulantes são geralmente bastante mais baratos do que os vendidos nas lojas.

É verdade. Os seus produtos são mais baratos não apenas porque estes vendedores não pagam impostos nem têm despesas mas também porque a qualidade dos artigos que nos querem vender é inferior ou apresentam imperfeições ou defeitos e, por isso, é importante ter cuidado para não sermos enganados e evitar que nos enfiem um barrete.

Eis alguns exemplos de como se enfia a carapuça a alguém:

— Comprei um telefone no Martim Moniz e o vendedor assegurou-me que estava desbloqueado mas quando cheguei a casa e tentei colocar o meu cartão, descobri que não era verdade. Era um vendedor muito simpático, mas considerando o preço do telemóvel eu devia ter desconfiado que estava a enfiar-me a carapuça!

— Na Feira da Ladra há imensas bicicletas à venda. E são todas baratíssimas.
— Tem cuidado! Muitas dessas bicicletas são roubadas e nunca se sabe se o dono apresentou queixa à polícia. Não deixes que te enfiem um barrete!

— Hoje tentaram vender-me um relógio de marca a €20.00 mas eu desconfiei da pechincha e não deixei que me enfiassem um barrete.

— Fui ao talho comprar um bife de alcatra mas o talhante tentou vender-me gato por lebre.
— Como assim?
— Eles não tinham alcatra e tentaram impingir-me uma carne cheia de gordura e nervos dizendo que era filé mignon… mas eu não fui na conversa fiada deles e fui a outro talho.
— Fizeste bem em não deixar que te enfiassem a carapuça.

A segunda expressão é: se a carapuça serviu, que sugere uma admissão ou reconhecimento de culpa por parte de quem decide usar a dita carapuça, como nos seguintes exemplos:

— As pessoas que não gostam de ler são burras.
— Eu não gosto de ler, estás a chamar-me burra?
Se a carapuça serve

— Não gosto nada de piadas sobre louras!
— Porquê? A carapuça não te serve pois tu és morena…
— Essas piadas são um insulto a qualquer mulher, independentemente da cor do seu cabelo.

Esta expressão apresenta várias variações, não é?

Na realidade apenas o verbo varia mas sim ouve-se dizer: a carapuça é para quem lhe serve; a carapuça é para quem lha põe; e a carapuça é para quem a enfia, como nos seguintes exemplos:

— A honestidade é uma virtude que tu não tens…
— Estas a acusar-me de ser mentirosa?????
A carapuça é para quem a põe…

— É bem verdade que a carapuça é para quem a enfia. Comentei com a minha sogra que não gostava nada de coscuvilhar a vida dos outros e ela ficou toda ofendida.
— Ninguém gosta que lhe digam para se meter na sua vida… seja direta ou indiretamente.

— O meu chefe acha que sou preguiçosa porque não entreguei o relatório a tempo e horas e repreendeu-me em público. Fiquei muito ofendida.
A carapuça é para quem lhe serve.

Existe ainda o idiomatismo qual + adjectivo, qual carapuça que é usado quase exclusivamente no discurso oral e muito informal para sublinhar incredulidade ou dúvida sobre a afirmação que acabou de ser feita.

— A água está bastante fria.
Qual fria, qual carapuça! Está espetacular.

— A sopa está salgada.
— Qual salgada, qual carapuça!!!! É assim mesmo que eu gosto!

VER MAIS:



FONTE:

https://observalinguaportuguesa.org

sexta-feira, 14 de novembro de 2025

"O negro do rádio de pilhas" - quem canta é o famoso Rui Veloso

O Negro Do Rádio De Pilhas / Rui Veloso

Vem descendo a avenida 
Negro do rádio de pilhas T
odo contente da vida 
Porque não chove e o sol brilha 
Uá, bã-bã-bã-uoh 
Batilha comprida e carapinha 
Com um visual garrido
Dançando enquanto caminha 
Rádio colado ao ouvido 
Iê, 
gã-gã-gã-uoh 
Uh-uh-uh-ah-ah-uoh 
Sei de quem tem hi-fi, oh
E lê enciclopédia

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

"O tempo da outra senhora" e o verdadeiro significado desta expressão

Homem, mulher café retro
imagem obtida in: https://www.publicdomainpictures.net


A minha pesquisa de hoje incide numa expressão curiosa que pode levar a outras interpretações diferentes da verdadeira, que é a que se segue:


'A expressão «o tempo da outra senhora» é hoje, realmente, muitas vezes utilizada quando nos referimos ao regime do Estado Novo em que havia censura e um regime de partido único. No entanto, a «outra senhora» não significa nem «censura» nem «ditadura», mas, sim, mesmo uma outra senhora. 

Explicando, esta expressão é anterior ao 25 de Abril e tem origem nas relações domésticas. A Senhora era a dona da casa e aí punha e dispunha. Era ela que ditava as leis da organização da casa, a serem cumpridas pela criadagem. Quando a senhora da casa morria, havia uma nova senhora (a filha, a nora, a nova mulher do viúvo que entretanto casaria), a ditar a organização da casa, e essa organização sofria alguma alteração; a forma de gerir era, naturalmente, diferente. E surge então a expressão «o tempo da outra senhora», distinto do actual. 

Quando muda o regime político, mudam as leis, muda a forma de organização do país e, por analogia, começa, então, a falar-se do tempo da «outra senhora» quando se pretende referir situações relativas a essa época anterior, situações essas que agora não existem ou foram alteradas.'

FONTE:
in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, 
https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/o-tempo-da-outra-senhora/13622 [consultado em 12-11-2025]

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

"Favela": conhecemos o verdadeiro significado e origem deste "brasileirismo"?

Favela - Submundo Periférico
(favela - planta)
imagem em: submundoperiferico.com

Há dias, num pequeno debate numa aula entre colegas de uma escola de língua francesa que frequento, fiquei a saber que a palavra "favela" não tem só o sentido de aglomerações de barracas no Rio de Janeiro, mas também se refere a uma espécie de "fava", uma leguminosa ou até a um género de  mandioca brava.

Resolvi encetar esta pesquisa e, claro, encontrei uma explicação muito completa, pormenorizada e até científica, da história desta palavra (e com as devidas fontes):

Então,  aqui fica a minha partilha da pesquisa de hoje e com " devida vénia" em relação às "fontes" de que me socorri para elaborar este post (a transcrição da pesquisa está em português do Brasil e selecionei o que mais interessava conhecer).

"(FAVELA, (...) Conjunto de casebres toscos e miseráveis, geralmente em morros, onde habitam marginais (...)."
"as faveleiras são arbustos muito esgalhados (Jatropha phyllacantha), e pela segunda, a mesma faveleira é o nome vulgar de uma árvore (Cuidosculus phyllancanthus), da família das euforbiáceas. Daí se infere que as denominações favela, faveleira, faveleiro abrigam vegetais de diferentes nomes científicos e até de diferentes famílias."

Etimologia da palavra FAVELA 

Aqui temos um excelente conjunto de matérias sobre a ETIMOLOGIA da palavra FAVELA, escrita por Márcio José Lauria inicialmente enviada pelo Guia Jimmy Havellock Campbell, seguindo a Rosario Amaral que enviou matéria sobre Histórico Ilustrado da Favela e adicionado por mim com um relato em Espanhol e a seleção de outro escrito por Francisco de Paula Melo Aguiar. (Gerardo Millone)

O significado de âmbito nacional que assumiu o vocábulo FAVELA, embora decorrência da campanha de Canudos, nem chegou, muito provavelmente, a ser do conhecimento de Euclides da Cunha. 

O primeiro emprego de Favela, em Os Sertões, tem acepção geográfica: “Todas traçam, afinal, elíptica curva, fechada ao sul por um morro, o da Favela, em torno de larga planura ondeante onde se erigia o arraial de Canudos – e daí, para o norte, de novo se dispersam e decaem até acabarem em chapadas altas à borda do S. Francisco” ...(...)
...(...) “As favelas, anônimas ainda na ciência – ignoradas dos sábios, conhecidas demais dos tabaréus – talvez um futuro gênero cauterium das leguminosas, têm, nas folhas de células alongadas em vilosidades, notáveis aprestos de condensação, absorção e defesa.” 
Pedro A. Pinto, no raríssimo Os Sertões de Euclides da Cunha (Vocabulário e Notas Lexiológicas), Rio, Francisco Alves, 1930, assim define o verbete Favela: 
“1. Monte ao sul de Canudos. 
2. Faveleira. Planta euforbiácea, ou segundo Euclides, leguminosa”. 
(...)
Um parêntese relevante: meu exemplar da citada obra de Pedro A. Pinto é xerocopiado. São mais de 300 páginas bem legíveis e belamente encadernadas, preciosa oferta do pranteado amigo e euclidiano Moisés Gicovate. 
Quanto à classificação botânica moderna, louvo-me nas informações do Prof. Geraldo Majella Furlani, que me indicou os trabalhos “Contribuição ao estudo da caatinga pernambucana”, de Walter Alberto Egler, estampado na Revista Brasileira de Geografia, ano XII, n.º 4, IBGE, Rio, 1951, e A Vegetação Brasileira, de Mário Guimarães Ferri, Editora da USP, 1950. 
Pela primeira fonte, as faveleiras são arbustos muito esgalhados (Jatropha phyllacantha) (...) e pela segunda, a mesma faveleira é o nome vulgar de uma árvore (Cuidosculus phyllancanthus), da família das euforbiáceas (...) Daí se infere que as denominações favela, faveleira, faveleiro abrigam vegetais de diferentes nomes científicos e até de diferentes famílias. 
Mas o objetivo principal deste estudo prende-se aos desdobramentos de significações linguísticas com repercussões sociais sofridos pela palavra Favela. O que parece fora de dúvida é que no morro da Favela, ao sul de Canudos, havia árvores ou arbustos conhecidos por favela. E desses vegetais originou-se o nome do mesmo morro. Ocorreu, assim, um caso de eponímia, ou seja, situação em que o nome de coisas ou de lugares é tirado de outras coisas ou de pessoas. Por ter dado nome a um lugar, no caso um morro, favela (planta) desempenhou a função de epônimo. 

Quanto à etimologia de favela, há duas hipóteses: 
Antônio Geraldo da Cunha, no Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa, Rio, 1982, liga o termo a fava. 
José Pedro Machado, no Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, Lisboa, Livros Horizonte, 4.ª ed., 1987, relaciona-o com favo. 
Compartilho a opinião de Cunha. 
Antenor Nascentes não consigna o termo em seu pioneiro Dicionário Etimológico, Rio, 1932, no qual trata apenas de substantivos comuns. Mas no tomo II, 1952 (nomes próprios), fornece preciosas informações no “Aditamento”. Transcrevo: “FAVELA. Morro da Bahia, em Canudos. De favela, diminutivo de fava, que deve ser um brasileirismo, pois os léxicos portugueses não dão. Favela é nome de um arbusto que Euclides da Cunha, Os Sertões, 41, aponta como sendo da família Leguminosae (a que pertence a fava). Morro do Distrito Federal, antigo da Providência. Tomou este nome depois da campanha de Canudos (1896-7). Veteranos da campanha pediram permissão ao ministério da Guerra para construir casas para suas famílias no morro da Providência. Daí por diante, o morro, seja como recordação da campanha, seja por alguma semelhança de aspecto ou por estar sobranceiro à cidade, como o de Canudos, passou a chamar-se da Favela, nome que se tornou por assim dizer nacional”. 
Dois esclarecimentos ao texto de Nascentes: 
A citação de Os Sertões é a mesma que indico estar às páginas 37 e 38 da edição que uso. 
Distrito Federal é referência à cidade do Rio de Janeiro, capital do País até 1960. 
Na verdade, favela passou a termo de aplicação nacional, voltando a ser empregado como substantivo comum, com sentido nitidamente pejorativo: “FAVELA, (...) // Conjunto de casebres toscos e miseráveis, geralmente em morros, onde habitam marginais (...).” (Dicionário Caldas Aulete, Rio, Delta, Edição Brasileira, 1958.) 
O Lello Universal, Porto, s.d., em edição da década de 40, é mais radical: 
“FAVELA, s.f. Brasileirismo. Neologismo. Planta das caatingas. - Morro habitado por gente baixa, arruaceira. Por analogia: lugar de má fama, sítio suspeito, freqüentado por desordeiros”. 
O Novo Dicionário Aurélio, Rio, Nova Fronteira, 2.ª edição, 1986, ameniza sobremaneira a definição do termo, adaptando-a à realidade, que faz não só marginais habitarem favelas: “favela. (...) 1. Conjunto de habitações populares, toscamente construídas (por via de regra em morros) e desprovidas de recursos higiênicos”. (...) 
O Michaelis – Dicionário Prático da Língua Portuguesa -, São Paulo, Melhoramentos, 1987, segue a mesma linha: “ Favela, s.f. Aglomeração de casebres ou choupanas toscamente construídas e desprovidas de condições higiênicas”. 
O Novo Aurélio Século XXI, Rio, Nova Fronteira, 3.ª ed., 1999, adota a mesma redação do Aurélio de 1986 e dá como sinônimos morro (RJ) e caixa-de-fósforo (SP), além de registrar favelado como “habitante de favela”, assim como desfavelar (“acabar com favela existente em”), desfavelamento (“ato ou efeito de desfavelar”) e favelizar-se (“adquirir aspecto ou condição de favela”). 
A imprensa, vez por outra, vem empregando favelizar (não pronominal) no sentido de “implantar-se uma favela”. O substantivo correspondente é favelização. 
Nenhuma referência dicionarizada a favela é, porém, mais completa no aspecto social do que a do Padre Fernando Bastos de Ávila, S.J., em sua Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo, Rio, MEC/FENAME, 2.ª edição revista e atualizada, 1972; creio, contudo, que a explicação dada à ocupação do morro no Rio de Janeiro é menos adequada do que a de Antenor Nascentes: 
“FAVELA. Etimologicamente é um termo latino que significa pequena fava. Historicamente, é o nome de uma pequena colina de uma região da Bahia, de onde provieram os migrantes que se instalaram, pela primeira vez, no Rio de Janeiro, nas imediações da Estação Pedro II da Central do Brasil. 
Ocuparam, na ocasião, uma pequena elevação, que, pela semelhança com a colina baiana, chamaram de favela. 
Daí o nome se estendeu a todas as aglomerações de barracos construídos na cidade do Rio de Janeiro, seja em escarpas, seja em regiões planas, em geral alagadiças, e que apresentam as seguintes características: 
1) ocupação efetiva do terreno, sem título jurídico que dê aos ocupantes a posse legal do mesmo; 
2) carência de serviços básicos de qualquer aglomeração urbana, principalmente água e esgotos; 
3) precariedade das construções dos barracos, feitos pelos próprios moradores, não só sem nenhum plano de conjunto que os proteja contra incêndios e facilite a circulação, como sem garantias de estabilidade contra a ação das intempéries, especialmente das chuvas torrenciais; 
4) condições subhumanas de vida, em especial devidas à exigüidade do espaço que obriga a uma vida de promiscuidade. (...) 

As favelas são o resultado de dois fatores básicos: 
1) o ritmo das migrações internas (...); 
2) o baixo nível dos salários. (...) Não existe uma solução única para todas as favelas; nem se pode tratar de erradicá-las para as transplantar para as zonas periféricas, porque a favela não é um fenômeno vegetal, e sim humano: nem se trata de urbanizá-las todas ‘in loco’, porque muitas estão localizadas em sítios que exigiriam custos vultosíssimos para o mínimo de condições indispensáveis de urbanização. (...)” 
Num dos buscadores internacionais de assuntos da Internet – Google -- estão consignadas mais de cento e oitenta mil referências ao termo, quase todas no seu sentido mais atual, como Rádio Favela, Favelatour, Rocinha – the biggest slum in South America. 
Sinônimos em outros países subdesenvolvidos: comuna, población, barrio de miseria, toma de tierra, slum, pueblo joven... 

EM SUMA: 
No Brasil, o vocábulo FAVELA teve a seguinte trajetória significativa: 
1. Substantivo comum, designativo de arbustos e árvores da caatinga; 
2. Substantivo próprio; epônimo de um morro situado nas proximidades de Canudos.
3. Substantivo próprio: topônimo de um morro na cidade do Rio de Janeiro. 
4. Substantivo comum, com sentido depreciativo, ligando-se a habitações de marginais; 
5. Substantivo comum, perdido o sentido depreciativo e evidenciada a significação socioeconômica do tipo de habitação popular que designa; 
6. A partir da acepção atual, abertura da possibilidade de formação de substantivos, verbos e adjetivos cognatos, alguns ainda não dicionarizados. 
...(...)...(...)...
MÁRCIO JOSÉ LAURIA 
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FONTE: oguialegal.com

De onde vem a palavra “favela”? | Super
imagem em: super.abril.com.br