sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Dois Poemas de Manuel Alegre


Sobre um mote de Camões

Se me desta terra for

eu vos levarei amor.

Nem amor deixo na terra

que deixando levarei.


Deixo a dor de te deixar

na terra onde amor não vive

na que levar levarei

amor onde só dor tive.


Nem amor pode ser livre

se não há na terra amor.

Deixo a dor de não levar

a dor de onde amor não vive.


E levo a terra que deixo

onde deixo a dor que tive.

Na que levar levarei

este amor que é livre livre.

 
Letra para um hino

É possível falar sem um nó na garganta
é possível amar sem que venham proibir
é possível correr sem que seja fugir.
Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta.

É possível andar sem olhar para o chão
é possível viver sem que seja de rastos.
Os teus olhos nasceram para olhar os astros
se te apetece dizer não grita comigo: não.

É possível viver de outro modo. É
possível transformares em arma a tua mão.
É possível o amor. É possível o pão.
É possível viver de pé.

Não te deixes murchar. Não deixes que te domem.
É possível viver sem fingir que se vive.
É possível ser homem.
É possível ser livre livre livre.

Manuel Alegre

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