terça-feira, 28 de maio de 2013

Holanda em recessão...

Holanda pode provocar o colapso do euro
A bolha imobiliária estourou, o país está em recessão, 
o desemprego sobe e a dívida dos consumidores é 
250% do rendimento disponível. O grande aliado da 
Alemanha na imposição da austeridade por todo o 
continente começa a provar o amargo da sua própria 
receita. 
Por Matthew Lynn, El Economista
Jeroen Dijsselbloem
A Holanda começa a provar o amargo da austeridade que o seu ministro das Finanças quer aplicar em toda a Europa. Foto By Rijksoverheid.nl [CC0], via Wikimedia Commons















Que país da zona euro está mais endividado? Os gregos esbanjadores, 
com as suas generosas pensões estatais? Os cipriotas e os seus bancos 
repletos de dinheiro sujo russo? Os espanhóis tocados pela recessão ou 
os irlandeses em falência? Pois curiosamente são os holandeses sóbrios 
e responsáveis. A dívida dos consumidores nos Países Baixos atingiu 
250% do rendimento disponível e é uma das mais altas do mundo. 
Em comparação, a Espanha nunca superou os 125%.
A Holanda é um dos países mais endividados do mundo. Está mergulhada 
na recessão e demonstra poucos sinais de estar a sair dela. A crise do 
euro arrasta-se há três anos e até agora só tinha infetado os países 
periféricos da moeda única. A Holanda, no entanto, é um membro central 
tanto da UE quanto do euro. Se não puder sobreviver na zona euro, 
estará tudo acabado.
O país sempre foi um dos mais prósperos e estáveis de Europa, 
além de um dos maiores defensores da UE. Foi membro fundador da união 
e um dos partidários mais entusiastas do lançamento da moeda única. 
Com uma economia rica, orientada para as exportações e um grande número 
de multinacionais de sucesso, supunha-se que tinha tudo a ganhar com a 
criação da economia única que nasceria com a introdução satisfatória do 
euro. Em vez disso, começou a interpretar um guião tristemente conhecido. 
Está a estourar do mesmo modo que a Irlanda, a Grécia e Portugal, salvo que
o rastilho é um pouco mais longo.
Bolha imobiliária
Os juros baixos, que antes do mais respondem aos interesses da economia 
alemã, e a existência de muito capital barato criaram uma bolha imobiliária e 
a explosão da dívida. Desde o lançamento da moeda única até o pico do 
mercado, o preço da habitação na Holanda duplicou, convertendo-se num 
dos mercados mais sobreaquecidos do mundo. 
Agora explodiu estrondosamente. 
Os preços da habitação caem com a mesma velocidade que os da Flórida 
quando murchou o auge imobiliário americano.
Atualmente, os preços estão 16,6% mais baixos do que estavam no ponto 
mais alto da bolha de 2008, e a associação nacional de agentes imobiliários 
prevê outra queda de 7% este ano. A não ser que tenha comprado a sua casa 
no século passado, agora valerá menos do que pagou e inclusive menos ainda 
do que pediu emprestado por ela.
Por tudo isso, os holandeses afundam-se num mar de dívidas. A dívida dos lares 
está acima dos 250%, é maior ainda que a da Irlanda, e 2,5 vezes o nível 
da da Grécia. O governo já teve de resgatar um banco e, com preços da 
moradia em queda contínua, o mais provável é que o sigam muitos mais. 
Os bancos holandeses têm 650 mil milhões de euros pendentes num sector 
imobiliário que perde valor a toda a velocidade. Se há um facto demonstrado 
sobre os mercados financeiros é que quando os mercados imobiliários se
afundam, o sistema financeiro não se faz esperar.
Profunda recessão
As agências de rating (que não costumam ser as primeiras a estar 
a par dos últimos acontecimentos) já se começam a dar conta. Em fevereiro, 
a Fitch rebaixou a qualificação estável da dívida holandesa, que continua 
com o seu triplo A, ainda que só por um fio. A agência culpou a queda dos 
preços da moradia, o aumento da dívida estatal e a estabilidade do sistema 
bancário (a mesma mistura tóxica de outros países da eurozona afetados 
pela crise).
A economia afundou-se na recessão. O desemprego aumenta e atinge máximos 
de há duas décadas. O total de desempregados duplicou em apenas dois anos, 
e em março a taxa de desemprego passou de 7,7% para 8,1% (uma taxa de 
aumento ainda mais rápida que a do Chipre). O FMI prevê que a economia vai 
encolher 0,5% em 2013, mas os prognósticos têm o mau costume de ser 
otimistas. O governo não cumpre os seus défices orçamentais, apesar de ter 
imposto medidas severas de austeridade em outubro. Como outros países da 
eurozona, a Holanda parece encerrada num círculo vicioso de desempreg
o em aumento e rendimentos fiscais em queda, o que conduz a ainda mais 
austeridade e a mais cortes e perda de emprego. Quando um país entra 
nesse comboio, custa muito a sair dele (sobretudo dentro das fronteiras do euro).
Até agora, a Holanda tinha sido o grande aliado da Alemanha na imposição da 
austeridade por todo o continente, como resposta aos problemas da moeda. 
Agora que a recessão se agrava, o apoio holandês a uma receita sem fim de 
cortes e recessão (e inclusive ao euro) começará a esfumar-se.
Os colapsos da zona euro ocorreram sempre na periferia da divisa. Eram países 
marginais e os seus problemas eram apresentados como acidentes, não como 
prova das falhas sistémicas da forma como  a moeda foi estruturada. 
Os gregos gastavam demasiado. Os irlandeses deixaram que o seu mercado 
imobiliário se descontrolasse. Os italianos sempre tiveram demasiada dívida. 
Para os holandeses não há nenhuma desculpa: eles obedeceram a todas as 
regras.
Desde o início ficou claro que a crise do euro chegaria à sua fase terminal 
quando atingisse o centro. Muitos analistas supunham que seria a França e, 
ainda que França não esteja exatamente isenta de problemas (o desemprego 
cresce e o governo faz o que pode, retirando competitividade à economia), 
não deixa de continuar a ser um país rico. As suas dívidas serão altas mas 
não estão fora de controlo nem começaram a ameaçar a estabilidade do 
sistema bancário. A Holanda está a chegar a esse ponto.
Talvez se tenha de esperar um ano mais, talvez dois, mas a queda ganha 
ritmo e o sistema financeiro perde estabilidade a cada dia. A Holanda será o 
primeiro país central a estourar e isso significará demasiada crise para o euro.
Matthew Lynn é diretor executivo da consultora londrina Strategy Economics.
Publicado originalmente em El Economista
Tradução de Luis Leiria para o Esquerda.net

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