quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Um poema de António Nobre: "Vá, Paris, deixa-te estar assim engalanada"

in: https://tertuliabibliofila.blogspot.com

"Vá, Paris, deixa-te estar assim engalanada
para o júbilo de um século
em que queres ser cortesã e rainha, 
amante dos poetas e concubina dos pintores.
Escolhi-te para me exilar de mim,
para perder o rosto e a lembrança
no delírio de absinto dos teus "bistrots",
para não ficar refém de uma lamúria
portuguesa, tentacular e visceral
que se cola à minha fala
como uma baba de animal rasteiro
nos muros brancos e mornos de setembro.
A minha tragédia sempre foi esta:
ser da aldeia do mundo, sem ser 
de lado nenhum dentro de mim.

(António Nobre)

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