Hoje é dia de ser bom. É dia de passar a mão pelo rosto das crianças, de falar e de ouvir com mavioso tom, de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.
É dia de pensar nos outros - coitadinhos - nos que padecem, de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria, de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem, de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.
Comove tanta fraternidade universal. É só abrir o rádio e logo um coro de anjos, como se de anjos fosse, numa toada doce, de violas e banjos, entoa gravemente um hino ao Criador. E mal se extinguem os clamores plangentes, a voz do locutor anuncia o melhor dos detergentes.
De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu e as vozes crescem num fervor patético. (Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu? Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)
Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas. Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante. Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.
Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates, com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica, cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates, as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.
Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito, ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores. É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito, como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.
A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento. Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar. E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento e compra - louvado seja o Senhor! - o que nunca tinha pensado comprar.
Mas a maior felicidade é a da gente pequena. Naquela véspera santa a sua comoção é tanta, tanta, tanta, que nem dorme serena.
Cada menino abre um olhinho na noite incerta para ver se a aurora já está desperta. De manhãzinha, salta da cama, corre à cozinha mesmo em pijama.
Ah!!!!!!!!!!
Na branda macieza da matutina luz aguarda-o a surpresa do Menino Jesus. Jesus o doce Jesus, o mesmo que nasceu na manjedoura, veio pôr no sapatinho do Pedrinho uma metralhadora.
Que alegria reinou naquela casa em todo o santo dia! O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas, fuzilava tudo com devastadoras rajadas e obrigava as criadas a caírem no chão como se fossem mortas: tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.
Já está! E fazia-as erguer para de novo matá-las. E até mesmo a mamã e o sisudo papá fingiam que caíam crivados de balas.
Dia de Confraternização Universal, Dia de Amor, de Paz, de Felicidade, de Sonhos e Venturas. É dia de Natal. Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade. Glória a Deus nas Alturas.
O Natal tem um significado muito especial para todos nós, porque é a época em que se celebra o nascimento de Jesus Cristo.
É interessante referir que já se comemora há 1600 anos e no dia 25 de dezembro.
O nome Natal refere-se à festa religiosa cristã em que Jesus é o centro do Cristianismo e o dia 25 de dezembro foi fixado pela Igreja Católica no ano de 350 pelo Papa Júlio I, oficializado mais tarde como dia feriado.
A verdade é que a Bíblia não refere o dia exato em que Jesus nasceu e por isso a comemoração do Natal não fazia parte das tradições cristãs no início.
"O Natal começou a ser celebrado para substituir a festa pagã da Saturnália, que por tradição acontecia entre 17 e 25 de dezembro.
A comemoração do Natal em substituição dessa celebração foi uma tentativa de facilitar a aceitação do cristianismo entre os pagãos.
Apesar disso, alguns estudiosos afirmam que Jesus terá nascido em Abril, e que a data foi instituído pela Imperador Romano Constantino para agradar os cristãos." (in significados.com.br)
Em relação à história do Natal, a Bíblia descreve que Jesus nasceu num estábulo em Belém, podendo ler-se nos evangelhos de Mateus e Lucas.
Este é um dos textos mais conhecidos sobre o Natal, em Lucas 2:1-14:
"Naqueles dias, César Augusto publicou um decreto ordenando o recenseamento de todo o império romano. Este foi o primeiro recenseamento feito quando Quirino era governador da Síria. E todos iam para a sua cidade natal, a fim de alistar-se.
Assim, José também foi da cidade de Nazaré da Galileia para a Judeia, para Belém, cidade de Davi, porque pertencia à casa e à linhagem de Davi. Ele foi a fim de alistar-se, com Maria, que lhe estava prometida em casamento e esperava um filho.
Enquanto estavam lá, chegou o tempo de nascer o bebê, e ela deu à luz o seu primogênito. Envolveu-o em panos e o colocou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.
Havia pastores que estavam nos campos próximos e durante a noite tomavam conta dos seus rebanhos. E aconteceu que um anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor resplandeceu ao redor deles; e ficaram aterrorizados.
Mas o anjo lhes disse: "Não tenham medo. Estou trazendo boas-novas de grande alegria para vocês, que são para todo o povo: Hoje, na cidade de Davi, nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor. Isto servirá de sinal para vocês: encontrarão o bebê envolto em panos e deitado numa manjedoura".
De repente, uma grande multidão do exército celestial apareceu com o anjo, louvando a Deus e dizendo:
"Glória a Deus nas alturas,
e paz na terra aos homens
aos quais ele concede
o seu favor".
Quando comemoramos o Natal não faltam os símbolos importantes de cada país tais como o presépio, o pinheirinho e a iluminação, a consoada com os seus pratos típicos e doces, as músicas, a troca de prendas, o peru recheado do Dia de Natal e as tradições de cada família...
"A árvore de Natal é um dos símbolos mais populares, e normalmente é um pinheiro. Há muitas versões sobre a associação da árvore ao Natal. Uma delas é que o formato triangular do pinheiro representaria a Santíssima Trindade. O costume de enfeitar as árvores de Natal surgiu em 1539 em Estrasburgo. Na América Latina, apenas no século XX teve início essa tradição. Atualmente, as árvores são naturais ou artificiais, sendo que estas últimas encontram-se à venda em cores variadas." (in significados.com.br)
O Pai Natal é inspirado na figura de São Nicolau, um bispo do século III, e as crianças acreditam que é ele quem traz os presentes, como conta a tradição.
Quanto ao símbolo da estrela de Natal, indica que foi ela quem guiou com a sua luz intensa os três reis magos até ao local onde Jesus nasceu (Evangelho de Mateus)
O símbolo dos presentinhos de Natal está bem representado pelos reis magos que levaram presentes a Jesus e pelo bispo Nicolau que tinha fama de gostar de dar presentes. É por isso que trocamos presentes no Natal, seguindo a tradição.
"Tanto as velas de Natal como as outras iluminações de natal simbolizam Jesus, que afirmou ser "a luz do mundo".
Em termos gerais, o Natal significa paz, alegria, fraternidade e generosidade. Todas as tradições associadas às comemorações natalinas proporcionam um forte aumento das vendas, constituindo a melhor época para os comerciantes."
(in significados.com.br)
(resumido e adaptado de Significado do Natal em significados.com.br)
"Adeste Fideles" é o título do chamado Hino Português escrito pelo Rei D. João IV de Portugal. Foram achados dois manuscritos desta obra, datados de 1640, no seu palácio de Vila Viçosa.
Muitos outros alegam a autoria desse hino ao autor mais divulgado, John F. Wade, no entanto este não pode ter escrito a obra, já que o seu manuscrito data de 1743. O mais provável é que Wade tenha traduzido o Hino Português, como era chamado em Londres na época e ficado com os louros.
Rei João IV
O autor português mais mencionado é João IV de Portugal. 'O Rei Músico' nascido em 1604, foi um mecenas da música e das artes, assim como um sofisticado autor; adicionalmente, foi compositor e durante o seu reinado foi dono de uma das maiores bibliotecas do mundo. A primeira parte da sua obra musical foi publicada em 1649. Fundou uma escola de música em Vila Viçosa, Portugal que 'exportava' músicos para Espanha e Itália e foi lá, no seu palácio, que se acharam dois manuscritos desta obra. Esses escritos (1640) são anteriores à versão de 1760 feita por Wade. De entre os seus escritos podemos encontrar 'Defesa da Música Moderna (Lisboa, 1649) ano em que o Rei D. João IV com fundamentação solicitou a Roma (Igreja Católica) a aprovação universal da música instrumental no culto católico. Uma outra famosa composição sua é Crux fidelis, um trabalho que permanece popular nos serviços eclesiásticos.
"Veio como refugiado do bairro humilde da Lixeira, em Benguela. Em Luanda chegou a lavar carros na rua e a engraxar sapatos.
Desde criança que Damásio ganhou o gosto pela música. Em meados de oitenta, no bairro em que vivia, ouvia as cassetes dos Kassav (grupo de musica zouk das Antilhas) e de Eduardo Paim.
Cresceu num bairro pobre, mas com um ambiente diário de festa. Apesar dos problemas financeiros e sociais, julga ter sido uma criança feliz que vivia numa comunidade humilde onde se partilhava o pouco que se tinha com o vizinho. Os mais endinheirados, que possuíam televisores em casa, punham-no no quintal onde a vizinhança se reunia para ver as novelas brasileiras e mexicanas. As crianças faziam bonecos de lodo e brinquedos a partir das latas de óleo.
Apesar de tudo, Damásio alegra-se pelo facto de ter tido um lindo pomar e um mar onde podia banhar-se gratuitamente. Acredita que o seu carácter é um resultado da linda infância que teve e de todos os valores morais que lhe foram transmitidos no bairro da Lixeira. Damásio lembra-se com orgulho da mensagem que recebia dos mais velhos do bairro: Angola vai melhorar. Temos que acreditar e viver em alegria, festa e harmonia todos os dias. Daí a homenagem ao bairro que o viu nascer.
Matias Damásio o menino da “Lixeira” de Benguela, chegou a Luanda em 1993. Devido à guerra partiu da sua terra natal em companhia da mãe e quatros irmãos e realojou-se no Município da Samba. O seu pai só os seguiu algum tempo depois.
Na condição de refugiado, passou por várias dificuldades e viu na música uma forma se exprimir e transmitir o que vinha na alma. Nessa altura juntou-se a dois amigos do bairro Morro Bento em Luanda: Timóteo e Gito com quem aprendeu a tocar guitarra.
Algum tempo depois sentiu a necessidade de abandonar a casa onde vivia com os pais e foi viver com amigos para o Bairro da Samba. Seguiu-se o município da Maianga, no Bairro Catambor, onde viveu com os conhecidos colegas de carreira Nicol Ananás e Paulo Mancini. Nessa altura ele andou pelas ruas a lavar carros e a engraxar os sapatos dos transeuntes como meio de subsistência."
"O inesquecível cantor e ator norte-americano Francis Albert Sinatra nasceu na cidade de Hoboken, em Nova Jérsei, no dia 12 de dezembro de 1915, único filho de um casal de imigrantes italianos. Sem jamais ter estudado música formalmente, ele deixou o último ano no curso secundário para seguir a carreira musical.
Frank principiou sua trajetória neste campo como cantor em clubes de seu estado natal e marcando presença constante em diversas estações de rádio. Em 1938 ele venceu um concurso radiofônico e transformou-se imediatamente em mestre de cerimônias de um clube conhecido como The Rustic Cabin.
Não tardou para que ele fosse publicamente revelado e então convidado para se tornar um membro do conjunto de Harry James e, posteriormente, o crooner da então célebre orquestra de Tommy Dorsey. Seu estilo era completamente informal, mas ao mesmo tempo muito requintado. Sua vocação para emitir notas longas e fluidas, sem mesmo parar para respirar, impressionava a todos e contribuiu para que ele se tornasse um sucesso imediato em todo o mundo.
Como ator de cinema ele não foi menos famoso, e conta em seu currículo com mais de cinquenta produções, entre elas A um passo da eternidade, de 1953, que lhe rendeu um Oscar; High Society, de 1956; Sob o domínio do mal, de 1962; A Sombra de um gigante, de 1966, entre outras. Entre os anos 50 e os 60 ele integrou uma comunidade artística conhecida como Rat Pack, composta por artistas que estavam sempre atuantes em seu campo de ação.
Na TV Sinatra manteve ao longo de diversos anos um show televisivo próprio. Na década de 90 ele levou adiante sua carreira, investindo em shows e gravações, no lançamento de diversos duetos, os quais eram transmitidos através dos melhores recursos tecnológicos da época.
Entre seus hits musicais estão clássicos como: Fly me to the moon, My Way, New York, New York, entre outros. Sinatra tinha um carinho especial pela bossa nova e admirava profundamente o maestro Tom Jobim. Ao seu lado ele cantou a eterna Garota de Ipanema, parceria que seria imortalizada.
Frank foi casado com Nancy Barbato e depois com as divas cinematográficas Ava Gardner e Mia Farrow. Mais tarde ele se uniu à dama da sociedade Barbara Marx, ao lado de quem permaneceu até o fim de sua existência. De seus casamentos restaram três filhos, Nancy, Tina e Frank Sinatra Jr.
O famoso cantor e ator teve também uma intensa participação política em seu país, especialmente na campanha de Franklin Delano Roosevelt para ocupar a Casa Branca. No início da década de 50 ele se viu de repente acusado de integrar a máfia e de ter uma secreta participação no crime organizado.
‘A Voz’, como é conhecido, por sua modulação aveludada, nunca deixou de vender seus discos, nem em meio às mais intrincadas polêmicas e escândalos. Duas estrelas na Calçada da Fama reafirmam sua popularidade tanto na carreira musical quanto nas telas da TV e do cinema. Aos 80 anos, em 1995, ele finalmente decidiu se aposentar como cantor. Três anos mais tarde ele morreu, em Los Angeles, vítima de um ataque cardíaco."
Nelson Freitas é um cantor e produtor musical holandês, de origem cabo-verdiana. O seu estilo musical incorpora R&B e hip-hop combinados com zouk, kizomba e música tradicional de Cabo Verde. Wikipédia
"Se tiver que amar, ame hoje. Se tiver que sorrir, sorria hoje. Se tiver que chorar, chore hoje. Pois o importante é viver hoje. O ontem já foi e o amanhã talvez não venha." Chico Xavier
de Sainte-Léocadie à Sainte-Nicaise, les gelées naissent
"Un proverbe est une formule langagière de portée générale contenant une morale, expression de la sagesse populaire ou une vérité d'expérience que l'on juge utile de rappeler. Il n'est pas attribué à un auteur (contrairement à la citation ou l'apophtegme): les proverbes sont souvent très anciens, à l'origine populaire et par conséquent de transmission orale. Ils servent d'argument d'autorité. Leur utilisation dans le cadre d'une argumentation peut donc attendre au sophisme.
Le proverbe n'est pas forcément incisif ou percutant, il peut être banal, mais il est surtout générique/de portée générale. Il est fixe en langue (il forme un bloc autonome) mais peut comporter des variantes. De forme simple et rapide, il est souvent imagé, métaphorique, mais pas toujours.
Les proverbes appartiennent au patrimoine linguistique d'un pays. Bien souvent, les différentes cultures ont créé des proverbes similaires, les vertus qu'elle proclame étant similaire."
(Encontrei em: http:/www.mon-poeme.fr/dicton-du-jour/) "Proverbe québécois: Bague au doigt, corde au cou. Proverbe espagnol: Le mariage est comme le melon , c'est une question de chance. Célibataire: un paon; fiancé, un lion; marié, un âne. Proverbe russe: Ne regrettez pas de de vous être levé tôt, mais de vous être marié jeune. Proverbe français: Le mariage est comme le restaurant: à peine est-on servi qu'on regarde ce qu'il y a dans l'assiette du voisin." ( in monpoeme.fr )
Transcrevo um artigo de opinião a propósito dos exames nacionais:
"O regresso ao poder da doidice ufana
Doidos, sem-vergonha, irresponsáveis. Os deputados que, em euforia intempestiva de quem voltou a “mandar nisto tudo”, puseram fim aos exames nacionais a Português e Matemática no quarto ano de escolaridade. Numa penada, de ânimo leve, sem vacilar, sem engulhos de consciência. Ilustração mais-que-perfeita da génese da desregulação do sistema de ensino nas últimas décadas: a sua instrumentalização pelo jogo político-partidário-ideológico.
Se a coligação de direita que acaba de cessar funções governativas deixou quase na mesma o que, no ensino, é crucial, a saber, a regulação de comportamentos nas salas de aula e nas escolas, o novíssimo ajuntamento interpartidário das esquerdas voltou a invadir de arromba a dignidade do ensino.
Adivinho que não ficaremos por aqui. As tutelas políticas que gerem a vida quotidiana não param de comprovar que as sociedades e as suas instituições, em particular as instituições socialmente sensíveis (família, escola, justiça, saúde, segurança, entre outras), podem ser muitíssimo mais vítimas daqueles que não sabem ficar quietos e calados e, mexendo-se, não sabem ser ponderados do que vítimas dos que fingem que o que se passa à sua volta não é nada com eles. É nisto que se traduz a fragilidade dos compromissos entre o respeito pela tradição e a introdução de inovações ponderadas em sociedades infantilizadas por se revelarem incapazes de exorcizar os seus passados revolucionários.
Os poucos dias da nova governação deixam ainda a descoberto outro sintoma das rábulas políticas. Repete-se pela enésima vez a transformação do lugar de ministro da Educação em estágio para quem se queira iniciar nas lides políticas. Para infortúnio do ensino, entre os que passaram no estágio com distinção contam-se Guilherme de Oliveira Martins, Augusto Santos Silva ou Manuela Ferreira Leite. Depois, esses e outros receberam o aval dos pares seniores para se dedicarem à política “a sério”, subindo para a divisão principal dos “pesos pesados”. Com resultados para o ensino semelhantes, há também os que chumbam logo no estágio, como Maria do Carmo Seabra ou Isabel Alçada. Por último, sobram os que necessitam de “Novas Oportunidades”, como Maria de Lurdes Rodrigues.
Antes de intervirem, não raras vezes de forma absurda e abrupta, nunca os que têm condicionado diretamente os rumos do ensino – destaco Mário Nogueira e respetivas elites sindicais, representantes das associações de professores e de pais sabe-se-lá-como, para além da elite política – evidenciaram um respeito minimamente convincente pelo conjunto de sensibilidades geracionais, cívicas, institucionais, profissionais, pessoais, científicas, pedagógicas, religiosas, políticas ou outras que instituem o universo do ensino. No ensino, nenhuma decisão é meramente científica, técnica, objetiva, indiscutível, inatacável. É por isso que a eficácia da gestão do sistema depende dos que trabalham nas salas de aula sentirem que são tratados de forma cuidada, ponderada, respeitadora, estável por quem condiciona e decide o sentido do seu quotidiano.
É saturante ver a instituição cuja identidade e dignidade partilho e à qual procuro dar o meu melhor há bem mais de duas décadas (e em salas de aula onde o que é importante se decide) ser recorrentemente atropelada por essa gentalha. Não é possível que eu esconda o que faço em sala de aula. E o pouco de bom que vou conseguindo tem sido conquistado contra a casta política, intelectual e académica dominante, muitíssimo bem representada no atual regresso pujante ao poder das esquerdas. A tais mestres na arte da usurpação de legitimidades políticas recomendo: vão dar aulas como eu nas periferias urbanas e suburbanas!
Decidir se se fazem ou não exames nacionais, como e quando – bem como sobre muitas outras matérias, como as insuportáveis aulas de noventa minutos, características de currículos hoje indigestos, opções pedagógicas que se tornaram lunáticas ou um sistema de classificação dos resultados escolares transformado num incompreensível labirinto – implicaria, no mínimo, realizar antecipadamente referendos simples e claros, orientados por questões objetivas, para que cada professor de sala de aula que todos os dias tem de gerir a complexidade da vida institucional expresse de moto próprio o que pensa, considerando as opções que apoia ou manifestamente rejeita. A manipulação e a falsidade das políticas educativas têm passado por contornar sistematicamente os fundamentos da legitimidade de quem se pronuncia em nome de terceiros. Se existem esgotos a céu aberto no modo como os sistemas políticos destratam os sistemas sociais, eles são nauseabundos nas relações entre o poder e a escola.
Não obstante a doutrinação marxista-leninista que há décadas corre em rédea solta nas salas de aula formatando a maioria sociológica de esquerda – evidentes em programas e manuais de história do 9º e 12º anos que quase não permitem que os alunos percebam que negar a dignidade e o direito à existência aos judeus (no nazismo) ou aos burgueses (no comunismo) constitui um apelo equivalente ao genocídio, sendo que os alunos são treinados para não perceber que Estaline (primeiro) e Hitler (depois) são irmãos gémeos precisamente porque o primeiro tem sido protegido pelos ideólogos d’Abril, ainda que Estaline tenha sido decisivo no derrube de um regime moderado (o “menchevique”) e se tenha transformado em figura de proa do primeiro regime brutalmente totalitário da contemporaneidade (o “bolchevique” e depois comunista) –, há quem duvide que os problemas do ensino são essencialmente ideológicos. E gerados pela ideologia tipo Frente Popular que regressou estridente ao poder em 2015. Para nossa desgraça."
Não houve debate. Não houve discussão pública. Não houve período de transição. Não houve demoras – nem se esperou que o novo ministro se ajeitasse na cadeira da 5 de Outubro. Por iniciativa do PCP e do BE, no primeiro dia do governo de António Costa, o parlamento aprovou a eliminação do exame do 4.º ano. E o mais curioso é que ninguém estranhou. Afinal, são eles, PCP e BE, quem define o rumo político quando se trata, como é o caso, de uma questão que não consta das “posições conjuntas” que o PS assinou? O que fez o PS da sua promessa eleitoral, agora inserida no Programa do XXI Governo (p. 105), de “reavaliar a realização de exames nos primeiros anos de escolaridade” – já reavaliou ou reavaliaram por si? E o que pensa o ministro sobre este tema?
Recorde-se que, quando Nuno Crato introduziu os exames no 4.º ano, o país dedicou horas a escrutinar a decisão e ainda mais horas mergulhado em comparações internacionais. Agora que é para os eliminar, não se consulta ninguém, não se executa um balanço dos seus efeitos, não há um minuto de debate público, não se admite uma observação, não se anuncia uma política integrada para a educação na qual encaixe essa eliminação. O PCP e o BE resolveram, o PS acenou, a Fenprof aplaudiu. Não há, portanto, outra interpretação possível: o PS aprovou a precipitação e escolheu a cedência ao PCP e ao BE, satisfazendo reivindicações sindicais e tornando irrelevantes tanto o seu programa como o seu ministro. Vai ser sempre assim?
A pergunta não é de pormenor, até porque a hierarquia política é apenas metade do problema. A outra metade está no perigo de tomar decisões sobre aspectos estruturais do sistema educativo – sector para ao qual se está sempre a pedir mais consensos e cautelas, e menos reformas e mexidas – em cima do joelho, sem ponderar consequências ou estudar alternativas. É que, nos moldes excessivos em que foi tomada, sem garantir um mecanismo de aferição e monitorização dos desempenhos escolares no 1.º ciclo, a eliminação dos exames do 4.º ano é um erro.
Há boas razões para defender a manutenção dos exames, assim como há boas razões para pretender a sua eliminação. Mas uma coisa é acabar com exames cujas notas têm influência na avaliação final e no percurso dos alunos. E outra coisa (inaceitável) é deixar um vazio de avaliação externa que impeça a monitorização das aprendizagens no 1.º ciclo, esquivando-se a substituir esses exames por provas de aferição – que não contam para a avaliação final, mas que servem para acompanhar a evolução dos alunos. Alguém sabe qual é o plano? Alguém percebe o que fica no lugar dos exames eliminados? Não se sabe, não se percebe.
Ora, é uma irresponsabilidade governar nestes termos, porque é impossível levar a cabo políticas públicas de educação sem monitorização dos resultados escolares – leia-se, sem a existência de uma avaliação externa (com ou sem impacto na nota final dos alunos). Gostem ou não PCP/BE disso. Porque é esse tipo de monitorização que permite avaliações internacionais (como o PISA da OCDE), que diagnostica as dificuldades de aprendizagem dos alunos a tempo de as corrigir, que possibilita o aperfeiçoamento das metodologias e do currículo, que facilita o apoio das escolas e dos professores aos alunos. Ou seja, a avaliação externa é um instrumento imprescindível para o sucesso escolar e para a promoção de igualdade, protegendo os alunos que mais precisam da escola para ultrapassar barreiras sociais e económicas. E, sem essa avaliação externa, a governação na educação converte-se numa navegação às cegas.
O PS sabe tudo isto. Ou, pelo menos, sabia-o nos tempos de Maria de Lurdes Rodrigues. Esperemos que não o tenha esquecido e que alguém emende o rumo. Mas os factos são o que são e, entre cedências perigosas, irrelevâncias políticas e precipitações desastradas, a legislatura começa mal na educação. Sobretudo porque, na sua base, arranca com uma incerteza inquietante: afinal, quem manda na educação?"
in: observador.pt (30.11.2015 , um artigo de Alexandre Homem Cristo)